Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

domingo, setembro 25, 2011

PARTIDAS E CRUZADAS*





E a gente, com aquela nossa mania terrível de ser sempre birrenta, acaba complicando tudo que podia ser tão, mas tão simples. É natural que os caminhos da vida se cruzem vez e outra, como é natural, também, que se distanciem – por mais que os nossos desejos em prece peçam o contrário. As distâncias devem ser obras de um deus, penso eu. Não está em nossas mãos impedir as partidas físicas nem as emocionais. É como as ondas do mar que, ao virem, beijam nossos pés, mas segundos depois, estão de volta ao lugar de origem. Não fomos nós quem a trouxemos ou quem a distanciamos. É coisa de deus. Assim, igualmente é com as pessoas que se afastam. É assim com os sentimentos que serenam com o tempo. Ambos voltam para o lugar de origem. Ficam guardadinhos em caixas de recordações, em álbuns de fotografia, em beijo feito tatuagem na pele que não desbota nunca. O bom das partidas – sim, há um lado bom nisso também, tem que ter afinal de contas... -, bem, o lado bom das partidas é o que fica conosco. Alguém me disse, e me desculpa pela memória fraca, alguém me disse que o amor que sentimos pelas pessoas que partiram não vão com elas..., o amor..., ah! esse fica conosco, independentemente das horas que nunca se acalmam. O corpo, veja bem, o corpo envelhece, a cor da gente desbota, a pele enruga, mas, olha quem fica!,  o amor fica intacto – mesmo que guardadinho em caixa de lembranças, que é para não doer tanto diante da ausência do toque, da risada que já esquecemos do tom. O amor fica intacto. O que fomos quando estávamos juntos permanece à sombra de nossa alma. Fica ali, também quietinho que é para não doer em lágrimas. Ora, bem sei que quando há distanciamentos no meio da história as lágrimas são inevitáveis. Eu mesma, dizendo tudo isso, acabo de deixar deslizar uma aqui. Mas o gosto é de saudade. É de amor que não acaba nunca, mesmo que distante esteja o outro coração tão amado; mesmo que esse coração amado nem bata mais pela gente... o amor de quando fomos alma única: permanece. Ainda que menos afobado..., mas está aí a graça da vida... ou, o que chamam de amadurecer, não? É sim, sei que é. 

*Título concedido amavelmente por Bruno Angeli.

My cure





Vou me agarrar à sorte de amar;
me entregar à sorte de viver - está decidido.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Pormaior


 


Tu te afliges por não perceber
que o amor está aqui.
Está ai, bem aí, no peito teu.

Foi o homem quem tornou
o amor doloroso.
[Não o coração descompassado.]
Foi o homem quem personificou
o amor por ser incapaz de enxergá-lo
dentro de si.

Não coloques pedras em teu peito,
nem abafes o pranto na tentativa
De curar qualquer dor de amor.
O Amor não dói.
O homem é quem se dói
(e se dói à toa).

O homem é quem criou as barreiras.
Quem criou as pedras.
Ergueu muros e quilometrou as distâncias.

Para o amor, não há distâncias,
não há muros nem barreiras pelo caminho.
Não há mundos outros, não há
tempos outros senão este.
Este tempo de amar.

Mesmo que distante...,
mesmo que pormenor,
são estes detalhes do amor
que faz o Amor.
Que te faz, ainda que doendo alma,
te faz Amar.

domingo, setembro 18, 2011

ABISMOS

Eu procurei não me preocupar,
não perceber o teu olhar
perdido em lembranças
saudosas de outro alguém.

Mas você se mostrou disposto
a me revelar suas intenções.
Mostrou-me que não é de respeito
que se fortifica um amor.
Mas que a falta de ambos
nos leva ao limbo dos relacionamentos.

Nos leva ao que temos agora.

- Tarde de mais.



*
Dos sorrisos de encantamento
ao meu fim em sepultamento.

A morte e o amor
estiveram sempre lado a lado.

As tuas fugas vadias,
o meu pranto ao embalar
o teu rebento.

Do legado de tuas linhas
sobrou apenas o meu desprezo
por tuas noites sórdidas
e vazias.

Vazias de amor compartilhado.
Vazias de entrega recíproca e sincera.
Vazias de ti.

Dos sorrisos de encantamento
ao fim do nosso amor em sepultamento.


quinta-feira, setembro 15, 2011

A MORTE É UMA FARSA


Abriu a janela do quarto. Olhou para o céu e para o asfalto. Calculou a altura; previu que a queda não seria instantaneamente fatal. Irritou-se com tamanho azar - já não bastasse viver às custas da mamãezinha, estropiando-se daquela alturinha ela acabaria por limpar-lhe a bunda. Seria demais. Mais esta humilhação e ele poderia extinguir o mundo somente com a força do seu ódio e frustração. Não!
Subiu alguns lances de escada e já estava no telhado do prédio. Por tamanha euforia, não percebeu o quanto de andares subiu até atingir o desejado. Estava muito determinado em fazer o que queria fazer. Chegando ao telhado, olhou para baixo, calculou a altura mais velocidade mais peso do seu corpo tudo isso multiplicando-se à gravidade. Estava perfeito. Não haveria meio termo dessa vez, pensou. Subiu na mureta do telhado, abriu os braços com extremo gozo e, sorrindo, mergulhou nas nuvens. Flutuou não mais que vinte segundos e logo pôde se ouvir o estrondo. 


 §

Acordou com dor de cabeça, como se tivesse levado uma grande pancada. Sorriu apesar de. Sua queda foi um sucesso, pensou orgulhoso de si e de sua Física quase que profética desde os tempos de faculdade.
Passado o primeiro momento de excitação, algo, porém, lhe parecia incoerente. Tocou em seu corpo, apertou os seus braços, levou a mão à cabeça e pôde sentir o sangue manchar a ponta dos dedos. Mas como?! – bradou espantado. Olhou ao redor. Viu a multidão em círculo à beira da calçada. O que estariam vendo? Também queria saber. Tentou olhar por cima dos ombros de algumas pessoas, sem sucesso, empurrou um ou dois homens que pareciam transtornados com algo. Empurrou-os, porém, estes nem se mexeram.
Sem saber o que estava acontecendo, pensando em como dois corpos poderiam ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, embora soubesse que isso fosse fisicamente impossível, chocou-se com o que vira. Um homem estava estirado ao chão. Os braços e pernas lhe pareciam deslocados do corpo. Sentiu as dores, como se pudesse ser solidário ao sofrimento alheio pela primeira vez em sua vida.
Sentiu suas pernas sem forças, molengas. Desabou. Preocupado e aflito, pois ninguém lhe socorria do que julgara ser um mau súbito, arrastou-se até o homem deitado imóvel na calçada. Aproximou-se um pouco mais e virou-lhe a cabeça para si. Foi então que, em desespero, reconheceu aquele rosto mergulhado em grande poça de sangue. Reconheceu-se. Era ele aquele homem. Mas como? - bradou com os olhos arregalados. Mas como?????! Berrou novamente e ninguém lhe respondeu.
Atravessou a multidão. Tentava sacudir as pessoas, mas elas não o sentiam. MAS COMO?!!! Desesperou-se ainda mais. Sabia que isto era impossível. Deveria estar louco. Como poderia estar ele no chão, morto, ao mesmo tempo em que se sentia vivo? Tão vivo que era capaz de sangrar, de doer-se. Como seus cálculos não deram certo? Como ele pôde suportar a queda de mais de trinta andares a cima do chão?? Desesperado e com dor insuportável, começou a sentir forte tontura, falta de ar... desmaiou.
 §

A ambulância chegou ao local seguida por um carro da polícia e outro do IML. Recolheram o corpo. E alguns depoimentos e evacuaram o lugar. O circo foi desmontado. A faxineira do prédio, com muita dificuldade e um tanto de lágrimas nos olhos, tentou limpar a calçada imunda de vermelho. Poucas horas depois, a rotina na Avenida Paulista retornou à normalidade.


domingo, setembro 11, 2011

Girassol sem sol

"A fala era polida e
outros tantos desejos contidos
cabiam na palma da mão. 

O cabelo solto escondia o pescoço nu. 
Estava pálida e vazia de dias felizes. 




Os olhos cinzas 
acabaram de se fechar 
quando o girassol murchou em sua mão. 

 


Não voltou a enxergar depois disso. 
O girassol se despetalou no chão.



E mais um dia,
em seu calendário de esperança,
amanheceu sem sol."