o calor de derreter
em tons de Dalí, literalmente
derrete primeiro a roupa, o relógio
depois se esvai o corpo de fora
logo em seguida, o corpo de dentro
fígado, rins, pâncreas,
plumão e, por aí, vou derretendo
mas há algo que emergiu do meu eu líquido
único órgão intacto
o coração irrigando vida
para ele mesmo, egoísta
comigo todo derretido pela sala,
ensaio uma teoria
fundamentada no tátil, no visível escopo
pesquisa de campo
retomo o monólogo antigo,
aponto para o meu objeto
impenetrável, duro
riso frouxo e peito estufado;
trago-lhes minha conclusão, irrefutável
(mais que dois pontos, exclamação)
o coração sobrevivente não é de gelo,
como os caríssimos supunham desde o início
o coração exposto aqui em análise
é feito de um resquício mínimo de minerais,
mas o elemento predominante
é matéria forte, impenetrável
granito, meus caros! não calcário - esses, são molengas -
o coração de que vos falo
este aqui, senhores,
é feito da mais bruta pedra