Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

sexta-feira, novembro 15, 2013

de aqui

amores são para sempre
como as estações climáticas
ainda que o cético teorize aquecimento global
o inverno glacial existirá
não com a mesma intensidade de 1715
mas existirá
mundo paralelo aqui frio quente
lá o quente calor 
amor de outrora lá
mundo paralelo
amor de agora aqui

quinta-feira, novembro 14, 2013

regras ortográficas (ou paz qual é)



para-choque                                                                    para-raio 
para-quedas                                                                    para-lama
para amar                                                                       ninguém escravize

reverberar

poemas são verdades que não dizemos dizendo
lágrimas que temos vergonha de desfrutar
sentimentos que temos orgulho em não demonstrar mostrando

poemas nos libertam de nossas algemas sociais
de nossas aparente perfeições mundanas

há na poesia a liberdade de ser quem se é
como tirar a roupa e mergulhar no rio pelado
como comer com as mãos e lamber dedo por dedo

poesias são o profetizar e o bendizer
dos céus quando estamos em paz com nossa irregularidade transitória
é também o estender as mãos à lúcifer
quando o outro lado da vida nos assola com a morte
no campo material ou mental

poetizar é ser, em essência, humano
rir gozar e chorar a cada quebra de ritmo
a cada verso dito a sua maneira

poetizar é ser livre,
é ser fundamentalmente cru

quarta-feira, novembro 13, 2013

sobre a saudade de helena

vejo a foto no retrato
o sorriso estampado
dói no meu peito
os olhos empoçados
agora são meus

terça-feira, novembro 12, 2013

fumaça melódica de 83

cogumelo da noite
vitamina diária
placebo de dons nobres
para dores também nobres
nei é uma lisboa inteira
lisboa teria nei se possível
mas viajando no cosmos
o pau brasil é ele

você sutil

esse seu você
me caiu como uma luva
para a mão que sou


na hora auge da tua falta

te matei em pensamento
à noite
hora auge da tua falta
te sufoquei com travesseiro
empurrei teu corpo para fora da cama
te chutei para debaixo dela
satisfeita fiquei por cima
impenetrável
adormeci
noite seguinte
hora auge da tua falta
tua sombra no pensamento meu
me via, éramos tu
espelho embaçado pelo vapor do banho quente
eras tu em meus olhos apertados
na hora auge da tua falta
surtei nem me vesti
molhada me deitei ao teu lado
embaixo da cama
lado a lado
na hora auge da tua falta
tua falta
tua falta
te ressuscitei
esfregando a memória
beijando o travesseiro de ti
sentindo o teu cheiro sufocado em cada pena de ganso
deitamos sobre a cama
te coloquei em cima de mim
me sufoquei de ti
na hora auge da tua falta

segunda-feira, novembro 11, 2013

poesia da pressa

foi
passatempo
passa o tempo
ainda te espero
vem

sopro de saudade

sozinha em casa, nenhum aparelho de som ou televisão ligados; saindo do banho, ecoou no vazio das minhas lembranças um assovio familiar. música assoviada de quem teve o dia longo e cansativo, de quem ouve uns bons bocados de palavras rudes em sua direção e responde com amor, responde com assovios ritmados.de quem é maior do que qualquer rancor. de quem aprendeu a lidar com a vida, a cuidar da renca de irmãos e ainda, sim, ter tempo para nós; assovios de elis, de titãs, de santiago e um em particular: ivan lins

ele ecoando assovios únicos da sala, a irmã mais velha, da cozinha, cantarolando boemiamente cada virgula. várias vezes o disco no repeat, até que eu, lá do quarto, na parte superior da casa pudesse cantar maquinalmente a mesma melodia:


"eu limpei minha vida

te tirei do meu corpo
te tirei das estranhas
fiz um tipo de aborto
e por fim nosso caso acabou
está morto

jogue a cópia da chave

por debaixo da porta
que é para não ter motivo
de pensar numa volta
fique junto dos seus
boa sorte, adeus"

ele se foi. foram-se voz, pulmão, córnea, tímpano, rim, baço, coração. 

permaneceu o eco dos seus assovios em mim que, timidamente, fecho os olhos como que em prece para poder ouvi-lo soprar amor em melodias que me acompanharão sempre sempre sempre.

acontecemos


eram lágrimas
difusas com o suor daquele mormaço
o sol a pino
as folhas estanques em seu destino murcho
a esquina labaredante penetrou no vento das coisas efêmeras do meu coração

secaram-se as lágrimas
secou-se o suor
sorriram em minhas bochechas roseadas 
a primavera de minha vida que há tanto neguei em regar

acontecemos