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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Inverno de 1972

Green eyes,
Pensei em te escrever alguma coisa.
Talvez se eu ligasse seria mais fácil. Mas que nada, eu iria engasgar, repetiria as mesmas palavras de segundo em segundo, formaria frases sem nexo até que a ligação caísse.
Não tendo coragem para tanto, pensei em te escrever.
Mas parei.
Escrever o quê afinal de contas? Se tudo que precisava ser dito não saiu por inteiro quando tive chance. Faltou ar. Faltaram palavras...
Angustia-me saber que poderia ser diferente. Que poderia ser melhor. Mas seria mesmo?
Evitei fotos, falas, músicas, filmes, cores, flores. Tudo para esquecer de pensar em ti. Mas nada foi suficiente. Eu fechava os olhos e lá estava você me esperando para conversar sobre o seu dia. E lágrimas dos meus olhos caíam. Elas sempre estavam presentes nesses nossos encontros.
E no final de tudo que foi e até o que nem veio, elas são as únicas que se mantém fiel para comigo. Mas já você... Está bem longe, mais longe do que as minhas pernas ainda jovens poderiam percorrer.
 
E eu só pensei em te dizer o que de verdade sinto agora. Alguma palavra tocante que te trouxesse de volta para bater outra vez na minha porta. Mas até mesmo por aqui, elas parecem não existir.
Talvez seja porque nada mais eu tenha dizer. E acontece que ainda fico presa.
Presa nesse passado que nunca se transformará em presente, e muito menos em futuro.
Sem esperanças, nem chances, nem sonhos, apenas ilusões me acompanham. Mais uma vez. E sempre por você.
Certamente você não irá ter conhecimento de nada disso, até por que eu não te mandarei
E também por que você nem é de verdade. Você se torna parte de mais uma das minhas crises psicológicas de inventar personagens para essa minha vida monótona.
Pelo menos, farei de conta que isso que disse acima é verdade.
Dormirei de qualquer forma. Só não se sabe como.
Até amanhã eu já nem lembrarei mais dessa sua participação vaga nessa folha de papel.
Mas, até amanhã...


P.s.:
Pegue o primeiro ônibus que encontrar e tome a estrada no caminho contrário do que você foi. Sairei correndo, mas dessa vez para atender a porta!
Preciso sorrir outra vez!
Nose frozen

domingo, janeiro 27, 2008

Desapontamento

Tente não desapontar quem te ama,
Pois a ferida que hoje sangra,
Um dia fechará,
Mas a confiança
- quem sabe -,
Pode não mais voltar.
 
P.s.: estou de volta!

quarta-feira, janeiro 16, 2008

(continuação)

As crianças estão fazendo amigos aqui nessa ilha, e na cidade tem tudo que podemos precisar, mas falta algo, que não vende nas mercearias, não fabricam e nem se encontra o endereço na minúscula lista telefônica: você.A distância é a mais triste da solidão. Aperta dentro do peito uma dor que nenhum médico sabe o diagnóstico. Por que precisava ser agora? Não poderíamos ter conversado antes?

Espero ter forças para suportar esse peso. E só aqui, Edu, eu me sinto tão próxima de ti, como se estivéssemos em casa mesmo. Essa brisa suave me acorda beijando o meu rosto todas as manhãs, como você sempre fazia. Eu sei que combinamos, em conversas passadas, manter o afastamento quando precisasse. Desculpe-me por não conseguir seguir o nosso acordo, mas hoje foi inevitável não te escrever.
Vi um barquinho bem distante de onde estou, e lembrei do nosso primeiro encontro em que fomos andar de Pedalinho, você se lembra disso? E depois quando completamos um ano de namoro você me levou até lá, no mesmo lugar onde nos beijamos pela primeira vez, para então me pedir em casamento. E foi tudo tão lindo. Deu coincidência de ser no mesmo dia o aniversário da cidade, e mais afastado de nós a cidade inteira comemorava e enquanto fazias o pedido os fogos de artifício brilhavam no céu estrelado de primavera. Parecia tudo tão planejado... Foi um dos dias mais lindos da minha vida.

Mas agora, Edu, talvez nem faça mais sentido recordar esses dias com você. Queria poder te prometer que essa será minha última carta, mas tenho receio de faltar com a palavra.
Talvez você nem abra. Talvez estejas muito ocupado por aí. Eu não sei. Mas eu só precisava te dizer que eu sinto tanto por essa distância. Desculpa pelos meus erros, mas agora nem preciso corrigi-los, não é mesmo? Você me disse adeus e sei do peso que tem essa palavra, e do quão difícil está sendo para aceitá-la. Observando essa água clarinha e calma, eu me lembro de como éramos quando casal. Às vezes ansiávamos por uma rotina diferente e fazíamos coisas inusitadas. Éramos felizes, meu amor... O nosso filho está me chamando, fiquei de levá-los a um passeio de lancha, e já estamos atrasados.
Por isso, meu bem, tentarei deixar os dias passarem, assim, um dia de cada vez.
Não sei como me despeço...
Apenas a deixarei do lado da sua foto, junto ao vasinho de flores que sua mãe colocou para ti.
Sinto sua falta, e essa eternidade que não passa...

Com amor
, Rita.

sábado, janeiro 12, 2008

Emaranhado de palavras-sentimentos (epístola)

Águas calmas, 17 de janeiro, 1985.

Nessa cidade pacata, a brisa é a única diversão que aqui tenho. Para falar a verdade, essa cidade se completa por si só. A água do oceano é fresca, Divina.
É muito agradável sentar-se à beira-d’água no fim de tarde e contemplar a dança das aves que flutuam no ar sob as águas. E o pôr-do-sol? Nunca havia visto beleza com o ar tão leve-puro como esta!
As pessoas daqui são simples. A primeira vista espantam. Elas mesmas nos afastam delas.
Na aparência, somos bem diferentes, eles não se importam com que roupa vão receber visitas, sair às ruas... Já eu, como bem me conheces, fico intrigada de sair mais ou menos e o pessoal que por mim passar ficar me olhando. Mas eles... são práticos. E desconfiados.
Senti-me uma completa estranha no meio deles. Sabe quando descobriram o Brasil? Senti como se eu fosse um dos Portugueses chegando de caravela e roubando o espaço de quem ali mora e é dono. E eles pareciam os Índios, se escondiam para ficar nos observando, se me afastasse dos meus pertences para dar um mergulho, ou brincar com as crianças, eles corriam para cheirar e até mesmo lamber minhas roupas entre outros objetos.

No começo me achei Dom. de alguma coisa, mas óbvio, nada cruel como nos antepassados.
Os dias são bem calmos por aqui. Nessa ilhasinha que estou, com esse pessoal diferentemente encantador, me sinto em paz.
Você estava certo de que eu precisava tirar umas férias. De início essa sua idéia me causou náusea, senti até um frio percorrer pelo meu corpo. O medo de te perder veio num estalar dedos...
Mas depois, com as passagens por mim compradas, entendi que seria o melhor para mim. O melhor para nós. E para os nossos filhos também que, nunca vi tão felizes como hoje. Estão radiantes. Aprenderam a pescar, na verdade, o Rafa foi quem pescou, um pequeno, mas a felicidade foi imensa que parecia que ele havia pescado um Tubarão, ou bichinho parecido.

A Juju sente sua falta. Fala em você o tempo inteiro. Esses dias, ela foi logo cedo para o meu quarto me acordar, queria conversar, e eu ainda sonolenta conversei. Contou-me de um sonho que a recém tivera com o papai, como ela diz com aquela voz doce e frágil que só ela tem. Disse que vocês estavam voando, brincavam nas nuvens, e ainda disse que elas eram o lugar mais aconchegante que havia deitado ou sentado, e enquanto narrava seu sonho, de seus olhinhos miúdos escorriam lágrimas saudosas de você, meu amor.
Entre alguns soluços mais, ela adormeceu. Eu perdi o sono. Fiquei abraçada com ela todo o tempo.
Sentimos muito a tua falta, Eduardo.
Não sei quando iremos voltar. [...]

P.s.:
Próxima publicação: continuação da carta!

quinta-feira, janeiro 10, 2008

VIDA

Afetividade rompida,
Traçada por linhas imaginárias de
Impulso e pulso afoito,
Com sentimentos completos
Em um mundo à parte.

Danem-se
àqueles
Que pouco sonham,
que nunca dançam,
que nada sentem.


Sinto
todos os sentimentos do mundo
Rio todas as alegrias infelizes
não importando, onde, como,
muito menos porquê.


Seja como for...
Apenas esteja.
Por que de todo o sentido,
irreal ou não...


Tanto faz, pois,
a vida está aqui
e eu
consigo tocá-la.
Consigo sentí-la.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

SAINDO DA ROTINA

Não era o meu propósito fazer desse meio um diário ou coisa parecida, que contasse, a quem interessasse ler, sobre os meus monótonos dias.
Mas hoje, a publicação é especial.
Fui presenteada pelo meu amigo blogueiro - se assim posso dizer - Hodric (Rodrigo Colombaro) e que meu blog foi indicado como "Blog Cabeça".
Fiquei extremamente contente por esse ato tão generoso e estimulante desse meu amigo.
E agora, cabe a mim passar essa 'premiação' a diante.
Pelo que eu li em alguns blogs, pode indicar no máximo cinco endereços, conhecendo tantos outros, digo que essa tarefa é bem difícil, mas agora, falo das minhas indicações:


http://hodric.blogspot.com/ : Se pode ou não, repetir o prêmio, eu não sei, só sei que ele merece, e muito. No blog do Rodrigo serão encontrados contos e outros mais textos de sua própria autoria. Cada publicação mais bem escrita que a outra.
E é por tamanha habilidade mostrada nesse endereço é que digo que vale a pena - e muito - desfrutar de uma boa e impressionante leitura!


http://biscoitosdesorte.blogspot.com/ : Publicações: de formas direta e tocante, assim posso atenuar meu favoritismo ao blog da Camila.
De forma sutil e cativante, combinando perfeitamente cores e imagens, ela transcreve tudo que há de mais instigante em nós, mesmo que alguns textos não sejam propriamente de sua autoria, todos levam um toque especialmente carregado de sensações e efeitos. O que muitas vezes causam um certo silêncio como reação de quem as lê.
Simples, porém, profundas e sinceras publicações.
Blog esse, que não pode ficar de fora, obviamente.


Esses blogs instigantemente chamam e prendem a minha atenção. O que é bem provável: que eu não seja a única.
Existem outros tantos blogs e blogueiros que merecem ser reconhecidos, e eu ainda estou a recém descobrindo-os.

Agora, passem a diante.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Agora

Olhe!
Não ande na contra-mão.
Não faça assim com o seu coração.
Ele – coitado – já se partiu demais por aí,
Por um engano e outro ele chorou.
Mas, olha, ele anda sozinho,
Carente, precisando de atenção.


Não faça assim com você.
Olhe para cá, estarei na sua frente
Quando, então, você decidir
Abrir os olhos, e tocar em mim.


Hoje eu estarei aqui.
Não te prometo nada para o amanhã,
Às vezes, o destino é tão traiçoeiro
Que não adianta planejar uma vida para depois,
Porque ela não acontece assim, por exato.


Então, levante a cabeça e enxugue as lágrimas.
Não perca tempo com o que ficou para trás.
Se ficou, era porque precisava.
Levante, lave o rosto, e olhe para mim.
Estou bem aqui na sua frente.
Pelo menos hoje, você tem a mim.


Quanto ao amanhã...
Bem, podemos deixar que ele venha
Ser, nós dois, juntos.
Quem sabe [outra vez].

sábado, janeiro 05, 2008

NOVO TEMPO

Apesar dos enganos, do dito pelo não dito, é bom lembrar para nós mesmos, que estamos aqui: realmente vivos.
O momento não é dos melhores... o interessante disso tudo é que a partir de agora, as circunstâncias, que aqui se mostram, têm ar de esperanças: de renovação!
Todas as esperanças perdidas, as lágrimas - de desistência - roladas, momentos cansativos em que simplesmente confiamos nossas pesadíssimas cargas nas mãos de Deus e repousamos sem fazer nada para nós mesmos, e todos os sentimentos avessos, precisam, mais do que nunca: que fiquem nesses dias de ontem.

Das tormentas, passageiras ou não, que as deixamos para trás, assim como o ano que passou.

Feliz Ano Novo: que as Esperanças, a Fé, a Paz e o Amor - tão necessários - renovem-se e estejam cada vez mais presentes nesse ano de recomeço.

▪Feliz 2008!

terça-feira, janeiro 01, 2008

(Continuação)

O trânsito confuso parou. Homens e mulheres que andavam apressados de repente estagnaram-se.O tempo parou naquele instante.
O estrondo foi enorme, o que fez com que todos, paralisados, silenciassem inconscientemente.
Aquele corpo juvenil, antes inquieto, de face corada, agora transparente, esfalecia-se no asfalto opaco e rígido.
Desesperadamente, o motorista do carro, correu em sua direção. Tomou-a nos braços – não lembrando que ela precisaria estar imóvel, tamanha proporção do acidente.
Um soluço incontido desfez o nó em sua garganta. Enquanto suas lágrimas amedrontadas corriam gravidade abaixo, banhavam o corpo frágil.
Com dificuldade ela conseguiu abrir seus lindos e expressivos olhos castanhos, podendo de fato, vê-lo pela última vez. 
Sentindo-se sufocada ela acordou. Tentando distinguir o que era apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo do que era verdadeiramente a realidade, precisou sentir com suas mãos o seu corpo.
Sentindo-se viva, abraçou-se. Passado alguns segundos de euforia levantou-se às pressas, tomou na garrafa mesmo, alguns goles de suco, aprontou-se sem muitos detalhes, e bateu a porta da frente: estava atrasada para a hora no cabeleireiro.
Hoje era o dia mais feliz da sua vida: era o dia do seu casamento. 
Essa farsa não iria muito longe mesmo.
E tudo, não passava de um terrível sonho, refletiu já sentada na cadeira do salão de beleza.
Aflita levantou-se correndo da cadeira e em desatino pegou a chave do carro. Dirigiu em alta velocidade para lugar algum.
Apenas fugiu. Ela não poderia deixar sua vida, ainda recente, acabar daquele jeito, como no sonho.
E ela apenas fugiu, não por causa do sonho, pois ele, lhe era um consentimento de alguém, de uma força maior, que vinha há tempos lhe mostrando provas e só ela não queria acreditar.
Apesar de estar fugindo, saiu de cara limpa e de alma lavada.


Era ele! O mesmo que há três meses atrás havia a deixado de véu e grinalda na porta da igreja. O mesmo que agora a apertava em seu peito, pedindo entre soluços, o seu perdão e prometendo mundos e fundos sussurrados ao pé do ouvido, exigindo que ela resistisse.
Deixando escapar uma lágrima, disfarçada num sorriso, ela, olhou-lhe envaidecida e suspirou orgulhosa até o seu fim.

E a chuva de estrelas pôde, enfim, ser explicados na tempestade emitida pelo infinito.