Quem sou eu

Minha foto
- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

terça-feira, janeiro 01, 2008

(Continuação)

O trânsito confuso parou. Homens e mulheres que andavam apressados de repente estagnaram-se.O tempo parou naquele instante.
O estrondo foi enorme, o que fez com que todos, paralisados, silenciassem inconscientemente.
Aquele corpo juvenil, antes inquieto, de face corada, agora transparente, esfalecia-se no asfalto opaco e rígido.
Desesperadamente, o motorista do carro, correu em sua direção. Tomou-a nos braços – não lembrando que ela precisaria estar imóvel, tamanha proporção do acidente.
Um soluço incontido desfez o nó em sua garganta. Enquanto suas lágrimas amedrontadas corriam gravidade abaixo, banhavam o corpo frágil.
Com dificuldade ela conseguiu abrir seus lindos e expressivos olhos castanhos, podendo de fato, vê-lo pela última vez. 
Sentindo-se sufocada ela acordou. Tentando distinguir o que era apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo do que era verdadeiramente a realidade, precisou sentir com suas mãos o seu corpo.
Sentindo-se viva, abraçou-se. Passado alguns segundos de euforia levantou-se às pressas, tomou na garrafa mesmo, alguns goles de suco, aprontou-se sem muitos detalhes, e bateu a porta da frente: estava atrasada para a hora no cabeleireiro.
Hoje era o dia mais feliz da sua vida: era o dia do seu casamento. 
Essa farsa não iria muito longe mesmo.
E tudo, não passava de um terrível sonho, refletiu já sentada na cadeira do salão de beleza.
Aflita levantou-se correndo da cadeira e em desatino pegou a chave do carro. Dirigiu em alta velocidade para lugar algum.
Apenas fugiu. Ela não poderia deixar sua vida, ainda recente, acabar daquele jeito, como no sonho.
E ela apenas fugiu, não por causa do sonho, pois ele, lhe era um consentimento de alguém, de uma força maior, que vinha há tempos lhe mostrando provas e só ela não queria acreditar.
Apesar de estar fugindo, saiu de cara limpa e de alma lavada.


Era ele! O mesmo que há três meses atrás havia a deixado de véu e grinalda na porta da igreja. O mesmo que agora a apertava em seu peito, pedindo entre soluços, o seu perdão e prometendo mundos e fundos sussurrados ao pé do ouvido, exigindo que ela resistisse.
Deixando escapar uma lágrima, disfarçada num sorriso, ela, olhou-lhe envaidecida e suspirou orgulhosa até o seu fim.

E a chuva de estrelas pôde, enfim, ser explicados na tempestade emitida pelo infinito.