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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

sábado, janeiro 12, 2008

Emaranhado de palavras-sentimentos (epístola)

Águas calmas, 17 de janeiro, 1985.

Nessa cidade pacata, a brisa é a única diversão que aqui tenho. Para falar a verdade, essa cidade se completa por si só. A água do oceano é fresca, Divina.
É muito agradável sentar-se à beira-d’água no fim de tarde e contemplar a dança das aves que flutuam no ar sob as águas. E o pôr-do-sol? Nunca havia visto beleza com o ar tão leve-puro como esta!
As pessoas daqui são simples. A primeira vista espantam. Elas mesmas nos afastam delas.
Na aparência, somos bem diferentes, eles não se importam com que roupa vão receber visitas, sair às ruas... Já eu, como bem me conheces, fico intrigada de sair mais ou menos e o pessoal que por mim passar ficar me olhando. Mas eles... são práticos. E desconfiados.
Senti-me uma completa estranha no meio deles. Sabe quando descobriram o Brasil? Senti como se eu fosse um dos Portugueses chegando de caravela e roubando o espaço de quem ali mora e é dono. E eles pareciam os Índios, se escondiam para ficar nos observando, se me afastasse dos meus pertences para dar um mergulho, ou brincar com as crianças, eles corriam para cheirar e até mesmo lamber minhas roupas entre outros objetos.

No começo me achei Dom. de alguma coisa, mas óbvio, nada cruel como nos antepassados.
Os dias são bem calmos por aqui. Nessa ilhasinha que estou, com esse pessoal diferentemente encantador, me sinto em paz.
Você estava certo de que eu precisava tirar umas férias. De início essa sua idéia me causou náusea, senti até um frio percorrer pelo meu corpo. O medo de te perder veio num estalar dedos...
Mas depois, com as passagens por mim compradas, entendi que seria o melhor para mim. O melhor para nós. E para os nossos filhos também que, nunca vi tão felizes como hoje. Estão radiantes. Aprenderam a pescar, na verdade, o Rafa foi quem pescou, um pequeno, mas a felicidade foi imensa que parecia que ele havia pescado um Tubarão, ou bichinho parecido.

A Juju sente sua falta. Fala em você o tempo inteiro. Esses dias, ela foi logo cedo para o meu quarto me acordar, queria conversar, e eu ainda sonolenta conversei. Contou-me de um sonho que a recém tivera com o papai, como ela diz com aquela voz doce e frágil que só ela tem. Disse que vocês estavam voando, brincavam nas nuvens, e ainda disse que elas eram o lugar mais aconchegante que havia deitado ou sentado, e enquanto narrava seu sonho, de seus olhinhos miúdos escorriam lágrimas saudosas de você, meu amor.
Entre alguns soluços mais, ela adormeceu. Eu perdi o sono. Fiquei abraçada com ela todo o tempo.
Sentimos muito a tua falta, Eduardo.
Não sei quando iremos voltar. [...]

P.s.:
Próxima publicação: continuação da carta!