Depois de tantos anos novamente me vejo deitada sobre o mesmo sofá velho e encardido e sobre a barriga, que sobe e desce acompanhando lentamente a respiração descansada, um livro fechado de páginas amarelas. Amarelas iguais aos últimos sorrisos dados por mim. E sabe-se lá o porquê disso, mas a sensação de solidão volta a embargar a voz e a preencher o coração de um vazio latejante, pulsante e acomodado. Acomodação esta que era costumeira, amiga e despretensiosa, mas que hoje está ardendo tanto aqui dentro como a chama da vela que horas parece se definhar ao soprar do vento, mas que de repente se acende brutal e intensamente, voltando a queimar e arder tudo outra vez. Sem piedade, sem apego, fatalmente, porém.