Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

terça-feira, novembro 13, 2012

Racionalizar

Pinta-se
O que se quer pintar
Aprecia-se
Quem e o quê se quer apreciar

Separar joio do trigo
Exercício que poucos estão
Predispostos a praticar.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Lembrete de geladeira

Talvez
isso seja um cala-te boca
Do Universo
Um observe:
A vida é muito mais do que isto!

Tire
Os olhos do próprio umbigo
Olhe a rua pela janela
Vista-se de verde

E se esqueça do juízo
Esqueça o nariz
Esqueça o se
Vai ser feliz.

domingo, novembro 04, 2012

O AR QUE NÃO POSSO MAIS RESPIRAR



Tem manhãs que nem bem abro os olhos e já penso nele. Penso com saudade e sinto até o cheiro do seu cigarro invadir meu quarto e penetrar em minhas cobertas. Levanto-me da cama num pulo e percorro a casa indo ao seu encontro. Mas não o vejo. Penso que ainda é bem cedo e que ele já foi trabalhar. Olho as horas e vejo a mesa do almoço recém-posta. Não era tão cedo como imaginei. Olho-me no espelho numa segunda tentativa de perceber que o tempo não passou. Engano-me novamente e volto para a cama com frio e desanimada.
Tem dias que é impossível não lamentar o ocorrido, não deixar o desânimo me embrulhar nas cobertas pesadas e me afundar no colchão. Tem dias que tudo dói com tanta agressividade que deixar o ar entrar no pulmão é desconfortante, é fatal. Tudo sufoca e me faz engasgar. É como se eu não pudesse ter mais nada dentro de mim além desse imenso vazio, porque já me sinto cheia.  Como se eu só conseguisse deixar sair esse ar que me angustia noite-dia, que é para ter mais espaço para essa parte que me falta ao mesmo tempo em que transborda em imensa e profunda saudade e mórbida melancolia. Como se eu não tivesse mais voz nem batimento cardíaco; tudo o que me restou causa dor, me deixa tonta, me faz morrer. Tudo que me restou é luto.
Volto a sentir o cheiro do seu cigarro em meu quarto e em meus cabelos e, como antes, fico brava porque eles estavam limpos, mas rio de pronto, porque é sinal de que ele ainda está aqui, embora minha intuição mística não quisesse que desse jeito fosse. Não quisesse que desse corpo não me fosse possível enxergar, não com o cigarro entre os dedos..., mas tranco a respiração e aguço meus ouvidos para ouvir seus pés de seda deslizarem sobre o piso de madeira – com o tempo, tornei-me especialista em quietude que é para não perder cada sentir de seus movimentos. Sinto mais frio e cada vez menos fome; logo volto a dormir um sono profundo e cansado.
Sonho com algo que aconteceu meses atrás. Ele havia pedido minha atenção de madrugada, queria seus cigarros (sempre eles, malditos!) e um copo d’água. Ficamos na cozinha, ele sentado, desequilibrante e eu ao seu lado aquecendo suas costas raquíticas. Em meio alguns gemidos de dor e de esgotamento, ele se lembra de uma notícia lida no jornal dias atrás. Era um livro de história sobre a segunda grande guerra, o qual qualquer assinante poderia recebê-lo em casa. Ele disse que gostaria de me dar e que havia pensado nisso o dia inteiro enquanto ficava deitado em sua cama, no seu quarto escuro. Disse que daria um jeito de me dar, mesmo com a grana curta ele faria a ligação e encomendaria o livro. Na noite seguinte ele precisou ser internado e nunca mais tocamos nesse assunto, nunca mais deu tempo de discar os números do jornal. Nunca mais quis dissecar a vida mesquinha de Eva Braun.