Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

sexta-feira, novembro 28, 2014

identidade


folha verde no meio fio da calçada
eu perdida, sem nome
coloquei-a em meu bolso
nome e sobrenome
pai e mãe no local
essa, sim, tinha pedigree
lançada no mundo
passei a me chamar maria
magalhães
nome de grã-fina
quarenta e oito anos
poderia até ser
coloquei minha identidade no bolso
o dedão tapando a cara da maria da foto
agora eu tinha nome
ainda que minha barriga reclame de fome
sou magalhães de data e hora marcada
são Paulo, brasil, mundo
eu estou aqui
maria magalhães
vinda não sei de onde
para não sei o quê
permaneço aqui, agora gente

quinta-feira, novembro 20, 2014

poesia urbana

no balanço do ônibus
um estalo qualquer
de pé, reina soberana
a poesia urbana
que ninguém enxerga

terça-feira, novembro 18, 2014

o primeiro dia de uma morte

o primeiro dia
de uma morte
não é memorável
a razão e o tempo inexistem
tudo paralisa
tudo é silêncio
o vento já não dá mais vida
às folhas das árvores
uma borboleta preta
pousa na mureta da janela
tudo é silêncio

o primeiro dia
de uma morte
é o luto inexorável
e luto inexorável é um vazio impreenchível
é o nada dentro da ausência
de se estar só
para sempre

o primeiro dia
de uma morte
é a eterna lembrança
do ontem e a desesperança do amanhã

o primeiro dia
de uma morte 
vive no vazio da eternidade

e o resto: é silêncio

óculos escuros

envaidecido, usa óculos escuros
para ler poemas

enquanto os versos lidos
despem a alma de toda sua desprezível humanidade

quarta-feira, novembro 12, 2014

abraços

                 para o ex-guardador de carros da rua Cassiano esquina Félix, Simpatia

corredores de supermercado
sempre abrem caminhos
para abraços inesperados
o amor exposto nas prateleiras
invisíveis do coração

domingo, novembro 09, 2014

sexta-feira, novembro 07, 2014

vasta mansidão

o mar enigmático é imagético
onda que leva é
a mesma que traz a vida
embaixo da areia e do gosto de sal
o corte cicatrizado não arde – mais
a vida embrutecida se confunde
à areia molhada – dura, porém permeável
tudo é longe
horizonte perdido no olhar se encontra
a vida indo e vindo
a energia do ar me (co)move
meu lugar é um profundo mergulho no mar
curando-me iemanjá

quarta-feira, novembro 05, 2014

décimo primeiro mandamento

não negarás abraço
a ninguém -- bradou uma voz misericordiosa
vinda não sei de onde

negar abraço é como negar água
ao desabrigado
em pleno verão de bagé, filho
é desumano inconcebível 
perante o Amor que te tenho

segunda-feira, novembro 03, 2014