Mas sentia um aperto em seu coração
que lhe dava a certeza
de nunca mais ver o céu azul de Westerbork
e a Primavera dando cor e vida àquilo
em que as mãos dos puros cristãos
ainda não haviam tocado.
Sentia o suor correr de sua testa desacostumada às caricias de sua amada.
Beijou (e)ternamente o dedo em que, antes das agressões desumanas,
era envolvido por uma linda argola dourada.
Beijou-a com lágrimas acinzentadas nos olhos.
Era o primeiro da fila.
Apesar da extrema magreza,
foi firme e valente até o último segundo.
Os homens cristãos cuspiram-lhe a cara,
alegando sua valentia como afronta aos designos de Deus.
O valente, vendo uma linda e encantadora luz
à sua frente, sorriu sem perceber que os homens de Deus
mantinham a arma apontada para a sua fronte.
Valente, viu aquela brilhante luz
tomar a forma de uma mulher. Alta e tão familiar.
Lágrimas cristalinas brotaram de seus olhos,
que iluminados, viram ascender a chama da esperança.
Os servos de Deus livraram-se às pressas de suas armas.
Entorpecido, o Valente, viu os cavaleiros da paz
libertá-los da escuridão
e dos arames que lhe eram enterrados diariamente na alma.
Deram-lhe comida, água e roupas limpas.
E, sobretudo,
devolveram-lhe o que era de direito.
Devolveram-lhe a liberdade.