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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

quinta-feira, junho 02, 2011

As últimas horas de um homem

Não sabia que eram suas últimas horas.
Mas sentia um aperto em seu coração 
que lhe dava a certeza 
de nunca mais ver o céu azul  de Westerbork
e a Primavera dando cor e vida àquilo
em que as mãos dos puros cristãos
ainda não haviam tocado.                                                      
              

                                                                                           Sentia o suor correr de sua testa desacostumada às caricias de sua amada. 
Beijou (e)ternamente  o dedo em que, antes das agressões desumanas, 
era envolvido por uma linda argola dourada. 
Beijou-a com lágrimas acinzentadas nos olhos.


Era o primeiro da fila. 
Apesar da extrema magreza,
foi firme e valente até o último segundo.
Os homens cristãos cuspiram-lhe a cara,
alegando sua valentia como afronta aos designos de Deus.

O valente, vendo uma linda e encantadora luz 
à sua frente, sorriu sem perceber que os homens de Deus
mantinham a arma apontada para a sua fronte.


Valente, viu aquela brilhante luz 
tomar a forma de uma mulher. Alta e tão familiar.
Lágrimas cristalinas brotaram de seus olhos,
que iluminados, viram ascender a chama da esperança.

Os servos de Deus livraram-se às pressas de suas armas.
Entorpecido, o Valente, viu os cavaleiros da paz
libertá-los da escuridão
e dos arames que lhe eram enterrados diariamente na alma.
Deram-lhe comida, água e roupas limpas.
E, sobretudo,
devolveram-lhe o que era de direito.
Devolveram-lhe a liberdade.