E a gente, com aquela nossa mania
terrível de ser sempre birrenta, acaba complicando tudo que podia ser tão, mas
tão simples. É natural que os caminhos da vida se cruzem vez e outra, como é
natural, também, que se distanciem – por mais que os nossos desejos em prece
peçam o contrário. As distâncias devem ser obras de um deus, penso eu. Não está
em nossas mãos impedir as partidas físicas nem as emocionais. É como as ondas do
mar que, ao virem, beijam nossos pés, mas segundos depois, estão de volta ao
lugar de origem. Não fomos nós quem a trouxemos ou quem a distanciamos. É coisa
de deus. Assim, igualmente é com as pessoas que se afastam. É assim com os
sentimentos que serenam com o tempo. Ambos voltam para o lugar de origem. Ficam
guardadinhos em caixas de recordações, em álbuns de fotografia, em beijo feito
tatuagem na pele que não desbota nunca. O bom das partidas – sim, há um lado
bom nisso também, tem que ter afinal de contas... -, bem, o lado bom das
partidas é o que fica conosco. Alguém me disse, e me desculpa pela memória
fraca, alguém me disse que o amor que sentimos pelas pessoas que partiram não
vão com elas..., o amor..., ah! esse fica conosco, independentemente das horas
que nunca se acalmam. O corpo, veja bem, o corpo envelhece, a cor da gente
desbota, a pele enruga, mas, olha quem fica!, o amor
fica intacto – mesmo que guardadinho em caixa de lembranças, que é para não
doer tanto diante da ausência do toque, da risada que já esquecemos do tom. O
amor fica intacto. O que fomos quando estávamos juntos permanece à sombra de
nossa alma. Fica ali, também quietinho que é para não doer em lágrimas. Ora,
bem sei que quando há distanciamentos no meio da história as lágrimas são
inevitáveis. Eu mesma, dizendo tudo isso, acabo de deixar deslizar uma aqui.
Mas o gosto é de saudade. É de amor que
não acaba nunca, mesmo que distante esteja o outro coração tão amado; mesmo
que esse coração amado nem bata mais pela gente... o amor de quando fomos alma
única: permanece. Ainda que menos afobado..., mas está aí a graça da vida...
ou, o que chamam de amadurecer, não? É sim, sei que é.
*Título concedido amavelmente por Bruno Angeli.