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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Oh, pedaço de mim...


Quebrar uma louça por vontade dos sentimentos alvoroçados provoca sempre uma sensação de conforto, de um alívio imediato. Visto assim, o lado positivo exalta-se. E o sorriso, acompanhado por algumas lágrimas de origens duvidosas, é libertador.

Porém, como de regra, há sempre o outro lado da moeda. Os tais poréns da vida. O porém de agora está em limpar os cacos espalhados pelos cantos da cozinha após a louça repartida em mil pedacinhos miúdos. Você, então, varre. Junta pedacinho por pedacinho com extremo cuidado para não se cortar. Embrulha delicadamente o que restou do seu jogo de jantar, herdado da sua tataravó, em várias folhas de jornal. Quando segura de que alguém não irá se cortar, o embrulho está pronto para ser colocado em um saco e despejado na lata do lixo. Pronto, a cozinha está impecável novamente. Ninguém (mais) irá se machucar.
Poucas horas depois do ocorrido, você sente sede e vai até a cozinha de pés descalços, nem lembrando que sua louça adorada havia se despedaçado ao chão. Bastou o descuido. Bastou o esquecimento para que você, pega de surpresa e indignada, enterrasse um mísero fiapo do que restou de vidro em seu pé desabrigado, para que a dor voltasse a doer profundamente. Incomodando e ardendo pelos próximos dias.

Assim, acontece com o coração que, por meio de um delicado processo de restauração e persistência, juntou seus caquinhos, um a um, tomando o cuidado de não deixar nada pelos lados tridimensionais da alma. Até que, de repente, você se descuida - assim como aquela que andou pela cozinha, com os pés desnudos, após ter quebrado a louça - você se descuida, não presta atenção por onde pisa, onde quer chegar e o que há em seu caminho e, pronto, um mísero fio de decepção penetrou profundamente em sua alma, deixando a ardência da penetração, a sensação profunda de inquietação, de corpo estranho..., de marcas e lembranças somente suas, não visíveis a olho nú, mas perceptíveis no inspirar do oxigênio para recobrar o fôlego em meio a dor.