Ressurge em minhas cinzas
O cheiro de antes vida
Um cansaço assombroso
Ao passo de uma morte anunciada.
Eis o script, seguido à risca:
Ressuscitou em mim
As lembranças da vida tenra
Os meninos de casacos brancos
As missas dos domingos santos.
Tudo o que é mais habitual e sacro
Ressurgiu em mim
Uma gota de lágrima seca.
As memórias anunciam o
Esquecimento vindouro.
Feridas, mãos enrugadas e manchadas
Veneram toda minha existência
hedionda.
Meu passo desassossegado,
O tilintar dos cristais poéticos e
nobres
Em tabernas abafadas e úmidas de
álcool.
Contradição
da juventude.
A gola da camisa manchada de carmim
A menina dos olhos de santa
Corpo de anjo
Alma de Lúcifer...
Toda estranheza e excitação juvenil,
Hoje, não valem mais do que duas
Lágrimas úmidas no canto do olho...
Estas que escondo
Resvalando os dedos trêmulos
E cansados dos regressos de minha
Passagem terrena.
Evapora de mim agora,
No último suspirar pneumático,
Toda minha vida
Marcada por letras -
Homenagem ao sepulcro das horas.
Toda vida enterrada
No esquecimento da própria vida,
Agora, evapora de mim.
Que seja esta, senão operante,
Mas, ainda, sim, lúcida
A canção do esquecimento das
memórias
De minhas lembranças
Acinzentadas pelo carvão incinerado
Da vida passageira.