Quem sou eu

Minha foto
- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

segunda-feira, outubro 29, 2012

CANÇÃO DO ESQUECIMENTO



Ressurge em minhas cinzas
O cheiro de antes vida
Um cansaço assombroso
Ao passo de uma morte anunciada.
Eis o script, seguido à risca:

Ressuscitou em mim
As lembranças da vida tenra
Os meninos de casacos brancos
As missas dos domingos santos.
Tudo o que é mais habitual e sacro
Ressurgiu em mim
Uma gota de lágrima seca.

As memórias anunciam o
Esquecimento vindouro.
Feridas, mãos enrugadas e manchadas
Veneram toda minha existência hedionda.
Meu passo desassossegado,
O tilintar dos cristais poéticos e nobres
Em tabernas abafadas e úmidas de álcool.
Contradição da juventude.

A gola da camisa manchada de carmim
A menina dos olhos de santa
Corpo de anjo


Alma de Lúcifer...
Toda estranheza e excitação juvenil,
Hoje, não valem mais do que duas
Lágrimas úmidas no canto do olho...

Estas que escondo
Resvalando os dedos trêmulos
E cansados dos regressos de minha
Passagem terrena.

Evapora de mim agora,
No último suspirar pneumático,
Toda minha vida
Marcada por letras -
Homenagem ao sepulcro das horas.

Toda vida enterrada
No esquecimento da própria vida,
Agora, evapora de mim.

Que seja esta, senão operante,
Mas, ainda, sim, lúcida
A canção do esquecimento das memórias
De minhas lembranças
Acinzentadas pelo carvão incinerado
Da vida passageira.

Que seja feita a passagem.