Perdi a tua linha...
Parece bobagem
Não querer beber café
Não contei, mas tem sido assim
Tenho sido do tipo orgânico
Que toma banhos rápidos
Que troca o doce pelo nada
O suco natural, polpas e sangue limpo
Parece loucura:
Somente fazer café
Tem sido minha cura
Difícil não saboreá-lo
O teu sorriso cheira a café
E isso fagulha
O que já não mais
É
Ouço passos na cozinha
Lembro-me do café
Das tuas melodias
Sangue ferve
A chaleira apita
Quero berrar
Mas só tenho saudade
A oferecer nessa casa vazia
Sem falar da cama...
Posso te ver
Saindo dela
Linda e branca
Caminhando na ponta dos pés
Para não me acordar
Eu, acordado,
Fingia dormir
Para te ter cautelosa
Pisando em nuvem
Pela manhã
Somente para mim
Mas agora a água esfria
Moo os grãos de café
Faço tudo
Como manda a rotina
Como tuas mãos brancas
Faziam
Só não o bebo
Não tem gosto
O líquido esfria na xícara
Apenas preto, insípido
Sirvo a mim
A ti
Mas os passos nus
Retumbam a madeira velha
A sala ‘de não estar’
Não estou
E
Estou tão triste
Cheirando a café
Os passos nus continuam
Retumbam-me
Lembro-me da tua solidão
Vestindo minha camisa
Branca
Invento o futuro
Que não tivemos
Sinto falta
Da água quente
Teu café
Inspiro suave e
Lentamente
[Finjo]
A fumaça do café fresco
Inspiro-me
Te vejo
Fumaça
Nua nos pés
Os olhos meus
As mãos tuas
Coando café
Caçoando minha velhice
A tristeza seguinte
Num gole filosofal teu
Perdi
Infelicidade profunda
Não te entender
No desenho marrom
O fundo da xícara
Anuncia o fim
Joguei fora
A tua borra de café
Não contei, mas tem sido assim
Do tipo orgânico
Caso irreversível de ti