Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

domingo, abril 07, 2013

do tipo: irreversível

Estou triste
Perdi a tua linha...

Parece bobagem
Não querer beber café
Não contei, mas tem sido assim

Tenho sido do tipo orgânico
Que toma banhos rápidos
Que troca o doce pelo nada
O suco natural, polpas e sangue limpo

Parece loucura:
Somente fazer café
Tem sido minha cura

Difícil não saboreá-lo
O teu sorriso cheira a café
E isso fagulha
O que já não mais
É

Ouço passos na cozinha
Lembro-me do café
Das tuas melodias

Sangue ferve
A chaleira apita
Quero berrar
Mas só tenho saudade
A oferecer nessa casa vazia

Sem falar da cama...
Posso te ver
Saindo dela
Linda e branca
Caminhando na ponta dos pés
Para não me acordar

Eu, acordado,
Fingia dormir
Para te ter cautelosa
Pisando em nuvem
Pela manhã
Somente para mim

Mas agora a água esfria
Moo os grãos de café
Faço tudo
Como manda a rotina
Como tuas mãos brancas
Faziam

Só não o bebo
Não tem gosto
O líquido esfria na xícara
Apenas preto, insípido
Sirvo a mim

A ti
Mas os passos nus
Retumbam a madeira velha
A sala ‘de não estar’
Não estou
E

Estou tão triste
Cheirando a café

Os passos nus continuam
Retumbam-me
Lembro-me da tua solidão
Vestindo minha camisa
Branca
Invento o futuro
Que não tivemos

Sinto falta
Da água quente
Teu café

Inspiro suave e
Lentamente
[Finjo]
A fumaça do café fresco


Inspiro-me
Te vejo
Fumaça
Nua nos pés
Os olhos meus
As mãos tuas
Coando café
Caçoando minha velhice

A tristeza seguinte
Num gole filosofal teu
Perdi
Infelicidade profunda
Não te entender

No desenho marrom
O fundo da xícara
Anuncia o fim

Joguei fora
A tua borra de café
Não contei, mas tem sido assim

Do tipo orgânico
Caso irreversível de ti