Muito
me estranha quem não demonstra fraqueza, quem é sempre forte por fora, casca
dura que não quebra a qualquer choque. Desconfio de quem não se abate com nada,
segue sempre sereno e firme, sem nunca fraquejar diante às decepções
corriqueiras da vida. Suspeito de quem diz não conhecer o fundo do poço, quem nunca se viu rastejando no submundo da infelicidade, quem nunca vagou pela
escura e fria solidão moribunda genuína do próprio despertar. Dessas pessoas, me
afasto. Não são humanas, são robôs, são qualquer coisa outra, menos humanas . Pessoas de verdade
sofrem. Rastejam, sentindo agoniada dor rasgar o peito. Pessoas de verdade, se
recuperam hora e outra. Antes, frequentam os piores bares da depressão e da auto
piedade, mas se reerguem, penteiam os cabelos, passam uma água no rosto e voltam
à superfície. Voltam, melhores e mais fortes e corajosos do que antes. Pessoas
de verdade querem morrer, mas não morrem porque há uma força muito maior que as
põem vivas novamente, frente a frente com o espelho nosso de cada dia. Pessoas
de verdade sentem alegria, sentem dor e se renovam a cada amanhecer, independentemente da chuva que cai lá fora.