Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

sexta-feira, agosto 23, 2013

Mesmo depois, ainda há

Se nasce triste,
se vive triste,
se morre triste. 
A tristeza está intrínseca
na humanidade;
é a única certeza 
da vida
antes da morte.

terça-feira, agosto 20, 2013

o mergulho é apenas consequência

o ser humano pode ser tão bonito quanto frustrante. é terrível perceber que as entregas são frutos de recompensa. tu me dás algo, eu me satisfaço e jogo um beijo no ar, fingindo contemplar nuvens que comi enquanto nem mesmo as digiro e já parto em busca daquele que tem o que eu quero e está vulnerável para me satisfazer. assim são as criaturas, mas, para o alívio da falta total de consideração, existe o abismo próprio que há em cada um. o mergulho é apenas consequência.

quinta-feira, agosto 15, 2013

gotejar; sobre não estar

aquela vontade
absurda
que vem
de repente
com a chuva fria e dura
os pingos de cortar o braço,
a chuva fria
num dia bonito de sol
de nuvens
branquinhas
dançando pálidas no céu

vem aquela vontade
ai!
duas vezes absurda
absurda
ter amarrado nos pés
uma pedra
um caminhão
se jogar fundo
no meio do mar
oceano e tudo vai
tudo ir
ver submergir
quinhão
tudo o que não vai bem
tudo que remédio algum
cura
que presença toda estraga
esfola
desgasta a alma

hoje acordei assim
um ai aqui
querendo não lutar
um ai a mais
querendo não lutar
contra corrente que me puxa
me leva para trás do alcançável
para trás de além

além mar
ah!
como queria estar.

quinta-feira, agosto 08, 2013

prana

Tenho fumado incensos diversos
Ingerido folhas e mais folhas
Dos velhos livros sacros
Energizado os chakras
Abraçado meu karma

Estou em dívida comigo
Preciso de uma overdose
De bons fluídos Orientais
Cósmicos e Espirituais

Estou em dívida comigo
Há não sei quantas reencarnações
Nesta, me mantenho diluída
Na promessa consciente
De devolver a paz que me roubei.

segunda-feira, agosto 05, 2013

vestida de ilusão

Tinha os olhos tristes
Maldizendo os céus
Sua própria solidão

Fui me chegando mansinho
– sei que nossas escolhas nunca se encontraram –
Fui me chegando mansinho
Dando carinho
Que julgávamos não merecer

Tinha os olhos tristes
A terra toda em festa
Com suas danças e saias em movimento

Vestida de negro
A sombra das manhãs
Pedi para que fosses minhas
Até de manhã cedinho

Como prece
Deitei meu peso em teu ombro
De repente, peso algum mais havia
As vozes celestes ecoavam no nosso quarto
A tua saia balançava ao luar
Como deusa do meu céu
Com o amor que eu poderia te dar
Aceitastes
Naquele luar de olhos tristes
Fomos os olhos mais felizes dessa festa

Minhas preces foram ouvidas,
Posso assim dizer,
Tu sorristes para mim
Como quem sorri para a voz de Caymmi
Sorristes enluarada, mansa nessa madrugada
Vestida de noite
Na terra dos infelizes
Fostes a mais feliz voz de cetim

Tinha eu os olhos tristes agora
O lamento dos que sofrem por amor
Dos que morrem por amor
Era o meu lamento em dó maior
Nem Caymmi me poria o sorriso de volta
Nem a valsa das tuas torneadas coxas
Me fizeram cantar para o teu enluarar

Tinha eu os olhos tristes cá
Chico me disse:
Foram tudo meras ilusões
Dos sonhos que dobram a esquina
Sem olhar para trás

Fico eu triste com os olhos de cá



sexta-feira, agosto 02, 2013

psicografia do perdão

Disseram-me que não era para eu me preocupar. Que embora o cansaço da longa estrada, eu não deveria desanimar com minha nova condição. Fiz das tripas coração e agora estou aqui, do alto, te olhando. Olhando como quem quer ser reconhecido; como quem passa os dias pensando nas coisas idas da vida, também, nas coisas vindas e que eu desperdicei porque, no momento propício, eu não estava pronto. Olho a ti daqui de cima e percebo quanto tempo desperdicei não te olhando como agora. Quantas noites mal dormidas eu tive e, por ingenuidade e solidão de quem nunca soube se dividir, decidi ficar pela sala, longe dos braços teus –que era para não te acordar a princípio, quando na realidade era para não me acordar. Não me acordar para o que a vida estava exigindo de mim e eu não quis ouvir, não quis ouvir a ti, nem a Marcos nem Pedro nem a Paulo. Simplesmente fechei meus ouvidos, afastei o mal dormir abanando a cabeça e enchendo minha boca do whisky mais caro que havia sobre a cristaleira da sala de jantar. Perdi o meu sono e perdi de ter colada em meu peito, pedindo asilo, um gole qualquer do meu amor. Perdi em não te amar como devia, perdi de ouvir todas as histórias que constastes nas tuas letras, que não me enviastes porque..., porque eu não tenho mais endereço, não tenho mais agenda; nota fiscal eu perdi, o compromisso com a vida eu me esqueci. Desculpa-me, minha querida Cândida, por não ter dividido meus anseios juvenis como o prometido; por ter te afastado da responsabilidade da minha vida enquanto tu repousavas a cabeça nua sobre o meu ombro, por ter desviado da nossa rota tão cedo. Mas a vida é justa e, a morte, também... Olhando-te do longe, agora, com os lábios sem cor, a roupa ainda de ontem, eu percebo o quanto fiz me perder de ti. Perdoa-me por ter ido, mas não posso mais voltar.
Com profundo amor e arrependimento, do teu

Olavo.