Disseram-me que não era para eu me preocupar. Que embora o cansaço da longa estrada, eu não
deveria desanimar com minha nova condição. Fiz das tripas coração e agora estou
aqui, do alto, te olhando. Olhando como quem quer ser reconhecido; como quem
passa os dias pensando nas coisas idas da vida, também, nas coisas vindas e que
eu desperdicei porque, no momento propício, eu não estava pronto. Olho a ti daqui
de cima e percebo quanto tempo desperdicei não te olhando como agora. Quantas noites
mal dormidas eu tive e, por ingenuidade e solidão de quem nunca soube se
dividir, decidi ficar pela sala, longe dos braços teus –que era para não te
acordar a princípio, quando na realidade era para não me acordar. Não me
acordar para o que a vida estava exigindo de mim e eu não quis ouvir, não
quis ouvir a ti, nem a Marcos nem Pedro nem a Paulo. Simplesmente fechei meus
ouvidos, afastei o mal dormir abanando a cabeça e enchendo minha boca do whisky
mais caro que havia sobre a cristaleira da sala de jantar. Perdi o meu sono e
perdi de ter colada em meu peito, pedindo asilo, um gole qualquer do meu amor.
Perdi em não te amar como devia, perdi de ouvir todas as histórias que
constastes nas tuas letras, que não me enviastes porque..., porque eu não tenho
mais endereço, não tenho mais agenda; nota fiscal eu perdi, o compromisso com a
vida eu me esqueci. Desculpa-me, minha querida Cândida, por não ter dividido
meus anseios juvenis como o prometido; por ter te afastado da responsabilidade
da minha vida enquanto tu repousavas a cabeça nua sobre o meu ombro, por ter
desviado da nossa rota tão cedo. Mas a vida é justa e, a morte, também... Olhando-te
do longe, agora, com os lábios sem cor, a roupa ainda de ontem, eu percebo o
quanto fiz me perder de ti. Perdoa-me por ter ido, mas não posso mais voltar.
Com profundo amor e arrependimento, do
teu
Olavo.