Quem sou eu

Minha foto
- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

sexta-feira, março 28, 2014

transe poético: o processo criativo e a escrita transpessoal

tem palavra que só acontece
em estado de transe
aí vem palavra segunda
vem frase seguinte
vêm estrofes ritmadas
vem o poema pronto, lapidação imediata
um transe metafórico dos diabos
/ou dos deuses, caso fores pagão
um transe metafórico
desses que a gente não encontra
na garra de vinho tinto noturna
nem no placebo antes de dormir
um transe acordado
sonolento
mas de olhos bem abertos
a caneta escreve, psicodélica
ou quando o ritmo é intenso e frenético
os dedos teclam
não há discórdia nem desgosto de sinônimos
brotam as palavras de isolda
saídas da minha boca
assino campos para deixar claro que não estou só
a iluminação poética
a condensação sublime do estado hiperbólico do sentir
tudo me vem com isolda
às mais ricas rimas
psicografo isolda campos
que viva ou morta
transcende em mim
poesia plena

quinta-feira, março 27, 2014

sonata de alice

                                para Alice Pereira

/prólogo
eu penso em ti
e os meus dedos logo tecem versos
cheio de rimas bobas
mas com um amor tão imenso...
quanta falta me cabes

...

na ponta dos dedos
dedilhas bemol
todos os sóis
que morrem lento em meu coração
traduz a pausa
o ritmo e o compasso
da partitura da minha vida
como sabes tanto de mim
sem dizer palavra alguma?

...

as palavras do coração
se estendem em valsa
harmoniosa composição daqueles que amam
incansáveis
como tu
a dança do amantes em compasso ternário
/tu que me ensinastes

quarta-feira, março 26, 2014

porta aberta, o futuro espera

saí e fechei a porta atrás de mim
d'outro lado, ela girou o trinco
abriu a porta e disse que essa mesma porta
continuaria aberta
para mim
e sorrindo
consequentemente tive enxaqueca
/crescer não é perder qualquer coisa ou tudo
mas saber seguir e, quando doer muito, poder voltar
e se reencontrar

ao som de cidadão quem -- o amanhã colorido

terça-feira, março 25, 2014

segunda-feira, março 24, 2014

quente e desmedido

tudo que fiz
e faço
até mesmo meus exageros
tudo
tudo exageradamente sincero

quinta-feira, março 20, 2014

estalactite

pensei
faz eco o vazio?
silenciei
estalactite por dentro
nem morcego dá conta

quarta-feira, março 19, 2014

carinhos de orvalho

i.
gosto
quando me roubas
o sono e as estrelas
com os teus carinhos de orvalho
amanhecido

ii.
sou tua grama
a relva selvagem
à espera do amanhecer derradeiro
/sempre à espera de ti

iii.
de nada adianta
cortar-me por inteira
se me tens noite dia
feito chuva passageira

iv.
rocio
condensação de vapor
que mais parece palavra emprestada
da língua espanhola
para falar do fenômeno
amor que cobre as roseiras
com o beijo de cada lágrima amanhecida

v.
sou pétala caída
na beira da estrada
no chão de terra fria
para proteger o formigueiro
das noites de ventania

terça-feira, março 18, 2014

primeiro verso

não tinha nem quinze anos
quando viu o que a madrugada trouxe
e, num rastro de luz,
compôs a primeira estrofe de vida
solidão em verso em rima
em noites que tudo eram
/sonhos que nunca dormem
daquela madrugada em diante
virou escravo
do que tinha a dizer
para continuar (vi)vendo

quinta-feira, março 13, 2014

marcha da família verdadeira

/sentido!
marcham pais de família
marcham mães de família
marcham mulheres que transam sem camisinha
marcham mulheres que transam com o mesmo homem pelo resto da vida
marcham homens pouco modestos
marcham homens pouco modernos
marcham homens sem barba e com cabelo engomado
marcham homens que transam com muitas mulheres
[inclusive com suas esposas, vez e outra
1 2 3 4
marcham pelas ruas a família
4 3 2 1
brasileira dos bons costumes
herança genética e patriarcal da europa
brasileiros de bons costumes são cristãos, lordes europeus
1 2 3 4
homens que transam com homens
4 3 2 1
/mas que na fila acusam a família sincera e de boa vontade de ser ridícula, doente
marcha a família brasileira cristã
que come legumes na hora do almoço, na frente das crianças
/mas à noite, arranca de baixo do travesseiro uma barra de 1kg de chocolate milka
[comprado no fim de semana no uruguai
1 2 3 4
marcham homens que trabalham para sustentar a família
4 3 2 1
e pagar a puta com lepra na esquina
marcha a família brasileira
alcunha família feliz e hétero
1 2 3 4
gozam as propagandas políticas
o partido cristão velado de sua esbórnia romanesca
4 3 2 1
triunfa com o slogan sóbrio de que família que se preze
é composta por pai mais mãe que é igual a filho
de natureza desiguais
1 2 3 4
homogeneidade é a cozinha para as mulheres
4 3 2 1
marcha o homem de gravata, calçando coturno camuflado
a mãe que trabalha em casa, de avental e com olho maquilado de roxo
também marcha pelas ruas
com seu rolo de macarrão nas mãos e seus bobes no cabelo
porque a família verdadeira
1 2 3 4
tem o pau que trabalha fora
e a vagina submissa que trabalha somente dentro
4 3 2 1
a família verdadeiramente cristã
sai pelas ruas, vai à luta
movimentando energicamente seu cabresto oral
chicoteando o homossexual
amarrando no poste de luz o ladrão pego no flagra
porque a família verdadeiramente brasileira
1 2 3 4
luta por justiça e honradez de sua imagem sacra
o sacerdote a hóstia e a batina levantada para o coroinha ajoelhar rezar pagar por seus pecados
[enquanto o padre, em nome de jesus que nos tenha!, goza no terço
4 3 2 1
marcha pelas ruas
a família verdadeiramente
brasileira
1 2 3 4
4 3 2 1
marcha, verdadeira família
com deus e pela liberdade!
/descansar!

quarta-feira, março 12, 2014

terça-feira, março 11, 2014

não é ipiranga nem avenida são joão

                             para Fabiana Weykamp

a esquina que corta a rua
o pé que caminha na calçada
o chão onde eu estou

/tu também estás

do outro lado da rua
na esquina que corta
o meu pé da tua calçada
a tua calçada da minha vida

não é ipiranga
nem avenida são joão

é consolação
num dia de verão para a minha disritmia cardíaca
era o paraíso e eu tampouco entendia

segunda-feira, março 10, 2014

em toda mulher nasce um rio

em toda mulher nasce um rio
no qual se pode navegar
como também vagar

a mulher tem as águas
tem suas margens
/até três como o rosa

lá se afunda
se perde
se flutua

a mulher tem a escolha
dar vida
dar morte

tudo é uma escolha
a vista e o ponto
o médico e o padre

em toda mulher nasce um rio
desde que seja sua a escolha
não são um nem dois
quaisquer que pode nela naufragar



sábado, março 08, 2014

poesia da saudade sensorial

no silêncio das madrugadas que me seguem
prendo a respiração para ouvir tua voz
entre o meu vazio e o meu soluço
os olhos vermelhos de saudade
me lembro até do teu assovio antes do sono que não acorda mais

poesia líquida

o café
bebido lentamente
o último gole
a xícara vazia
também é poesia

no espaço de tempo
perdido entre os pensamentos
a mão que leva o líquido à boca
o movimento
é poesia coada para o paladar do esquecimento

se bebe o alento
o consolo cafeinado
/híbrida
a poesia, meu bem, também é líquida

quarta-feira, março 05, 2014

enfrento

como se o mundo
o mundo todo
pudesse voltar a sorrir em paz
olhei para trás
e me vi
vindo
seguindo como sempre
sempre em frente
ainda que tudo
seja difícil e cansativo
como nadar contra corrente
nadar com raiva
para não se deixar levar
pela correnteza
pela força tão absurda
que é a solidão
por seguir em frente
enfrento o mar


ao som de matt waltters - i would die for you

segunda-feira, março 03, 2014

bigode laranja

                                        para Leminski
quero
te por num mural
e fazer de ti
meu próprio carnaval

sábado, março 01, 2014

paixões não tecem poemas

paixões são avassaladoras
não dão tempo de tecer poemas
perde-se muito tempo
entre suor e rima
desvencilhando-se das algemas