Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

terça-feira, março 31, 2015

incômodo cômodo

“e o que me resta
é só um gemido”
João Ricardo e Paulinho Mendonça

deitado sobre o
sofá do conformismo
assistindo à vida
passar na  tevê
outro dia mais
mais ninguém

/adiantando relógio
         tu também?

domingo, março 29, 2015

um MARço de saudade

a morte
sempre nos rouba
de nós

           

cada um
com seu luto
sua luta diária


em horinhas da tua ausência
meu coração é um oceano de dor


minha dor pacífica
não cabe no oceano
  
            

coração sangra
a falta tua
nesse espaço
imensamente vazio
onde deixastes marcas
do carinho teu


toda noite
eu sorrio
para a lua
toda noite
o silêncio me desperta
uma lembrança tua

o amor: agiganta-se
debaixo das cobertas 
de estrelas sonhos 
saudades sem pressa


sexta-feira, março 27, 2015

revoltos fios de areia negra

teus cabelos negros
na areia da praia
revoltos fios de areia negra
dançam no mar 
coberto de lua

as ondas do teu corpo
o nó de marinheiro
da tua respiração

amar o amor
amar o amor
amar o amor
teu diafragma revela

o arquétipo das semideusas
desfilam nuas
na areia gelada da praia
nuas coexistem com o mar

amar o amor
amar o amor
amar o amor
iemanjá revela

tens de mim a imensidão do mar
vasta solidão
marinheiro só

amar o amor
amar o amor
amar o amor
eu nos revelo

quinta-feira, março 26, 2015

ginástica cerebral (ou sinapses relapsas capricham)

sinapses relapsas
capricham esse poema
empobrecido (mudo)

tudo escrito
no mais profundo
inconsciente

atento ateia fogo
em cusparadas
de verdades silábicas
contundentes rimas ricas
roucas loucas e frouxas

tudo dito
no que parece não dizer

léxicos grafemas fonemas
a língua um leque de possibilidades
guimarães na boca do povo

tudo dito
bendita seja
a palavra bem dita
que não digo

quarta-feira, março 25, 2015

ideolinski

b
e
n
d
i
t
a
a palavra dita

nada esconde
nem dor nem alegria
b
e
n
d
i
t
a
a palavra dita

tudo agita
coração e rebeldia

espinha de peixe

de que adianta
a resposta já sabida
se a espinha de peixe
fere tanto quanto
o beijo da sereia maldita?

terça-feira, março 24, 2015

liturgia-idiossincrática-literária

o poema emenda o edema
a poesia livra-me da azia
de estar só
                    boa parte da vida

segunda-feira, março 23, 2015

kiru

(para bashô e leminski)

morte: serena alegria
a folha amarela diante de
seu renascimento sobre a terra

domingo, março 22, 2015

haikai de outono

borboleta branca
bateu na janela do quarto
seria sorte? descuido?
/amanheceram folhas secas na minha cama

           

para cada estação: haikai
para cada sensação: haikai
para cada vida: poesia 

sexta-feira, março 20, 2015

qualquer dia desses, maria vai chorar rosas

qualquer dia desses
vou tocar numa banda
em plena praça sete
vou jurar que
todas as rimas
causam estranhamento
todas as primas pedem
por um pouco de rebeldia
e vou doar minha poesia
para uma igreja
no meio do nada
e nesse dia
maria vai chorar rosas
e a cidade inteira
de mãos dadas
vai fazer festa
em volta de uma fogueira
cantando e dançando amor
para qualquer um
que não se perceba
nem mesmo diante do espelho

terça-feira, março 17, 2015

sobre pedras e amor federal generalizado

subi na vida
sou maior que dilma
e deixo obama no chinelo
estou ao lado de deus

estou seguindo carreira
num papel
não como escritor
sou orgânico*

fui promovido com méritos
sou lei de uma constituição
sou essencial para qualquer nação

sou regra categórica
acima da verdade
ao lado de deus

sou orgânico
sou regra sem exceção
minha lei é o A M O R

e tenho dito




* Nota do Autor: Segundo Dicionário Houaiss. Rubrica: termo jurídico. Que preside à organização de um governo (diz-se de uma lei constitucional ou essencial).

sábado, março 14, 2015

madrugada indômita

sou a madrugada

que revela suas dores
mais íntimas
enquanto a cabeça
embala seus tormentos diurnos
no travesseiro noturno
dos lamentos

sou a madrugada

escura, insone
terrivelmente íntima
mergulho debaixo de lençóis
invado sonhos
desconstruo narrativas
manipulo emoções
agito tuas cobertas
e em sobressaltos
relembro desassossegos esquecidos

sou a madrugada

friamente acolhedora
penetrante, irrefreável

incurável

fala-me de sol e solidão e em tudo canta-me o amor

                               (para a baiana Alice Pereira)

clave de sol
linda
salta da tua
SOLidão
e canta-me o amor
em dor maior

sexta-feira, março 13, 2015

em tempos de crise, a literatura salva

meu movimento
é literário

minha manifestação
é puramente poética

estou de viagem marcada para o sertão da minha solidão

a saudade é tanta
que eu ainda nem desfiz as malas
vai fazer um mês agora domingo

a bagagem continua pronta
intacta na sala perto-da-porta
para o caso de eu poder voltar

porque dessa vez
a imagem no espelho revela
parece que fui eu
quem realmente foi embora
me deixando para trás
            outra vez


quinta-feira, março 12, 2015

papoulas, gás e plath

agora
enquanto você sacode
esse poema sujo
para que nada presta
tem alguém
com a cabeça
dentro do forno
intoxicando o mal-sentir
daquilo que não passa
nem com a poesia anestésica de plath

terça-feira, março 10, 2015

resenhas da solidão – dor inútil

discurso ausente
o isso estagnado
minha poesia
canto livre
e nada: mesma coisa
                        
não quebra muros
não interrompe guerras
não salva ninguém
nem a mim

inútil

tão inútil
quanto a palavra gravada
numa folha branca
mofando dentro de uma gaveta
na úmida e vazia satolep

segunda-feira, março 09, 2015

caminho veríssimo

                              (para o meu grande e único amor)

que minhas lágrimas não me impeçam de
desvendar e contemplar o nascer do poema
a cada novo dia na estreita e mal iluminada satolep

que deixastes para eu tomar conta
enquanto não te demoras abraçando
[esse mundo todo teu

e que sob às margens do teu guaíba
quintana passarinho abençoe e cante o nosso amor
para quem tem medo de correr riscos

                                                               [e ser feliz ainda hoje

sábado, março 07, 2015

esse é o trem que me leva para a fonética praga

                      (para giovana gonçalves)

foi

como se o peso
sobre os ombros
no ar rarefeito

ficasse

leve como pena
pena de ave
que voa alto
perto longe rasante

fiquei

solta no ar
as pernas pêndulo
o corpo livre
a vida testemunha
do meu riso
alívio prego enferrujado
marteladas te quero
não hoje: agora
sob o mesmo

verbo

código fonte: mira
a minha sina
de ser aqui
para estar ali
no que dizes
enquanto eu sinto
no que digo
enquanto tu sentes

poema

que automático compõe
estradas: labirínticas rimas
para o amor

sǫu

termino a estrofe
com tua cartada
na manga doce
da blusa longa
que cobre braços
liberta teus abraços
no meu corpo
envolto de língua
acesa no dicionário
quente: místico transcende
tua papila gustativa
delirante sobre vogais
acentos consoantes danças
gal carnes ramil
no mp3 ocupa
teus ouvidos lindos
escutam: tudo ama
baixinho composto vermelho
entrada subterrânea: coração
minha vida impregnada
língua: linguista: linguística:
é esse trem
que me leva
para a fonética
praga?

formalismo

russo costura círculo
jakobson leminski gonçalves
na mesma terra
de fernando pessoa
que pessoa pessoa
humana revela: emana
amor palavra devoção

tua linguística mística
de volta volta
volto volto volto

vou

como se o peso
sobre os ombros
no ar rarefeito
leve me levasse
para a casa
de volta volto

quarta-feira, março 04, 2015

a noite amanheceu em meu coração

    (para o meu grande e único amor)

não duvido
do nosso amor
para ter certeza de
que tens o mundo
na palma das tuas mãos

/sei porque sinto

o infinito é teu e,
ainda sim, eu sou tua
toda tua nesse mundo
que será para sempre: nosso


segunda-feira, março 02, 2015

na estrada, a saída é sempre chegada de alguém

coração-inquieto, responda:
quando aconteceremos
outra vez depois
do para sempre
que mentimos para nós
com honesta franqueza?