A dor que era minha
se desfez.
A saudade que era dela
agora é minha
e nada que era tudo de antes
está no lugar de hoje.
Do tempo que fomos nós,
do tempo que muito gastamos
e nos desgastamos naquela cama,
hoje, só nos restam os nós.
Ah! A dor que era tão minha...
Hoje está nos olhos dela,
que eram tão meus,
tão meus... (pávidos)
E eu os perdi.
Nas idas a um bar qualquer,
do tanto que me esbaldei
nas danças de mulheres sem graças...
Eu a perdi.
E os meus sombrios lampejos
de sobriedade
hoje acordam nus e sós
num lençol encardido
(De uma cama qualquer
que nem lembro o cheiro que tem.)
De abraços sem nomes,
de olhos sem brilhos
e de beijos, os quais nunca senti.
Que não são os teus.
E também, não sou mais teu (nunca nem fui).
Eras minha.
- Ela era... Mas... Eu...
Eu, eu a perdi! (Estapafúrdio e débil que sou!)
E essa dor que volta a ser minha
e os tempos, os quais nunca
sequer senti são vagos, tortuosos.
Danosos.
Oh! Amarga saudade clara,
traga-a de volta
(Que ela sempre será minha).
E eu jamais saberei quem fui.
E que tempo foi esse
que lembro que vivi?
Mas bastou um gole,
um gole! Para vê-la partir...
E outros mais para tentar
vê-la voltar.
Para os braços meus
que só desejam,
e se entregam cansados
de tanto deixá-la escapar.
Piedosos, caem sobre mesas
engorduradas de bares
em que nunca lembro
de ter adentrado.
Sombrios, úmidos
e vazios, iguais
a mim que ando
aos trôpegos
sem encontrar meu lugar.
Vagando aos prantos
por entre noites imundas
rogo aos céus para que
não repouse mais, casualmente,
o meu corpo em teus braços macios.
Que eram tão meus,
tão meus...
Mas que hoje, tão mais pálidos
não abraçam mais a mim
nem a mais alguém.
E só por hoje,
ainda hoje, serás eternamente minha.