Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

terça-feira, setembro 30, 2014

feniletilamina

no caminho para a casa
pelotas
tudo cinza
do céu que eu vejo
ao chão que caminho
não pertenço

uma angústia consome 
quase tudo
o desejo de vida resiste,
reside insone em meio ao caos

a chuva
a rua alagada
um lírio fugindo
da sacada do terceiro andar
exibe para mim
uma brecha da eternidade

sexta-feira, setembro 26, 2014

a utilidade da escuridão

é preciso saltar do trampolim da inexatidão
e mergulhar
mergulhar de cabeça no fundo do poço
com os pulmões cheios de ar
encostar com os dois pés no seu chão
nadar na tristeza
desbravar sua latência
para reconhecer sua própria fortaleza
/intrínseca e atuante nas causas mais urgentes

quanto maior o mergulho
melhor o domínio
e a cura de si mesmo

mergulhar
mergulhar
mergulhar

o fundo do poço
também é um bom lugar para se estar

terça-feira, setembro 23, 2014

sobre isolda campos

a conversa perdida
em noite de lua cheia
tudo vazio lhe soa
até flor de laranjeira
já não cheira

quarta-feira, setembro 17, 2014

do google

desconsidera o papel
a rima oca harmoniza com o mouse livre
a técnica volátil da caneta sem tinta
a energia que nunca esgota
a métrica que acompanha os caracteres alucinados
renderizados na melancolia de noites sem estrelas
só a luz da tela lcd  não mais lsd 
só a luz da lua artificial ilumina
as dores modernas
dos amores antigos
da fome de antes
da miséria de agora
o cursor piscando na tela
o brilho da escuridão é quem conduz o poeta
do homem de neandertal
ao revolucionário hacker de poemas
ocultos nas entrelinhas bot do meu coração

segunda-feira, setembro 15, 2014

resposta

não me interrogue
a resposta está aqui
é o próprio poema
o resultado da palavra
o significado e o seu sentido
o verbo rouco de tanto gritar
o sujeito nu de tanto se mostrar

sexta-feira, setembro 12, 2014

sobre quem toca e permanece sempre em mim

                                          para g.f.
te vi
pelo vidro da porta
e foi como se
todas as portas do mundo
abrissem para um mundo inteiramente novo

quinta-feira, setembro 11, 2014

universo que o meu olho enxerga além

se estou
de fato nesse mundo
meu universo
vai além do
meu umbigo
meu universo é
o que afeta
assombra
fere
contamina
meu olhar até o japão
a dor do garotinho chinês
que se enforcou com o cinto
por não ter tirado boas notas na escola
a bomba que caiu sobre uma mesquita em teerã
o urubu que comeu os restos
do pequeno africano
ainda com vida
definhando na beira da estrada
a chuva que afogou os paulistas
a mesma que não matou a sede do povo sertanejo
o meu universo
enquanto ser observador
ser, até mesmo, atuante
nesse lugar
vai além da minha própria
e humilde dor
meu universo
somos nós
em conjunto e coro
uníssono
que o meu olho enxerga
pela tela plana
que o meu ouvido escuta
quando durmo para acordar

quarta-feira, setembro 10, 2014

tudo tanto

tão lírica a vida
tão poético o viver
me desato
em rimas
que qualquer um
me pode saber

segunda-feira, setembro 08, 2014

dentro de mim

dentro de mim
habita uma tristeza intocável
um abismo imensurável
um dano irreparável

dentro de mim
mora o perigo

no fundo infindo
de mim
um parasita chamado lembrança

sexta-feira, setembro 05, 2014

anotações em agudo carmim

    (para giovana gonçalves)


batom
vermelho borrou
o espelho
do banheiro imediatamente
tocou gal na sala os deuses
conspirando para eu me
lembrar de ti vermelha
refletida imagem o amor
inexplicável de poesia pura
eu só transcrevo
a saudade em mim
manchada de carmim

quinta-feira, setembro 04, 2014

quarta-feira, setembro 03, 2014

vale-transporte para vênus

bucólicas passagens
sobre o tempo
à espera do ônibus
tudo poderia ter sido perfeito

terça-feira, setembro 02, 2014

um poema puxa outro

a prova de que nem tudo é dor
quando se vai escrever melancolia
e, por duas vezes, se escreve melancia
melancia
melancia
é fome, dirão
e fome, eu digo,
quando a barriga forrada
é felicidade
é isso satisfação
a poeira assentada

o reverso da melancolia que outrora no cardápio continha mas não enchia