Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

terça-feira, novembro 06, 2007

Uma vassoura

Sou uma vassoura.
 
Senti-me assim durante um bom tempo de minha vida. Cheguei a pensar em abdicar minhas atividades, e deixar de lado toda poeira varrida para debaixo de armários, tapetes. Sou uma vassoura que pensa, que sente a ausência de não ser utilizada.
Preciso varrer!
Um dia me peguei exclamando feito doida varrida. Varrida? Não! "Sou eu quem varre... Sou uma vassoura,!" exclamei para minha mãe estrela. Somos aquilo que queremos ser, ela respondeu delicada. E eu digo, me orgulho de ser uma madeira velha e pouco cheirosa, que varre, varre a qualquer hora, e depois descansa pendura num prego enferrujado fora de casa. 
Adoro ser!

Não sou uma simples madeira magricela com palhas na cabeça. Eu sou uma vassoura que varre. Varre com alguém. Alguém cantarolando, alguém resmungando... Mas alguém. Poucas horas de uso, e ainda  sim tenho a companhia de pessoas de verdade. Eu sou uma vassoura feliz. Adoro varrer, já disso isso antes? Sinto-me tão útil varrendo... Chego a cantar.


Muitas vezes, me usam demais e o estresse é grande. São tantas peças à varrer... Tantos tapetes à serem limpos... Eu trabalho demais e por hora: cansa! Acabo perdendo minhas madeixas louras e secas, sem nem tirar o brilho dos olhos continuo varrendo e cantando.
E como canto!!
Prefiro ser vassoura. Graças ao meu bom Deus que não sou um aspirador de pó. Eles são tão chatos... Tão barulhentos... Tão enormes e pesados... Eles me cansam, sabe? Querem tomar o meu lugar. E os desgraçados ainda moram dentro de casa enquanto fico encostada numa parede gelada. Francamente!! Mas nem isso me faz voltar atrás: adoro ser vassoura, varrida, varada, vibrante.
Não preciso de fios. Posso ser usada na rua em dia de chuva, posso ser usada quando falta luz. Inclusive, espanto até alguns humanos e outros animais que incomodam o meu parceiro de serviço. Além disso, eu não preciso carregar um saco sujo dentro de mim, onde guardo as mais podres sujeiras espalhadas pelos cantos. Eca! Que nojo. Eu logo que vejo uma sujeirinha já coloco-a para longe. Longe de mim guardar ressentimentos. Longe de mim guardar coisa ruim que não querem mais e que só faz mal. Cruzes!
Eu mesma posso tirar toda e qualquer desavença que há aqui dentro. "Você pode, é uma vassoura,!" lembra-me mamãe estrela todos os dias à noite enquanto fico lá fora de casa, descansando na varanda já limpinha.

Engraçado essa vida, além de econômica e leve, eu posso voar; coisa que o meu concorrente não pode e nunca poderá, porque, além do mais, sou o quero e hoje serei apenas uma vassoura.