Não tem mais jeito. Já juntei os cacos que deixastes pelo chão e
sempre tem um que me escapa aos olhos e fura o pé. Não tem mais jeito. Sempre
vai existir a tua falta e que de tão silenciosa fura o coração da gente que
ficou aqui, na sala vazia para arrumar a bagunça que tu deixastes ao sair
batendo a porta atrás de si. Sempre tem um cinzeiro escondido, tímido, querendo
espaço na cômoda. Sempre tem a tua gaveta vazia e nela transbordam tuas
lembranças, as boas e as ruins - que também foram muitas. Não tem mais jeito. Não
tem coração que não aperte em soluço, um dia e outro, bendizendo a tua partida,
disfarçando a cara inchada da manhã por causa do choro da noite passada. Não tem
um dia que passe batido a tua lembrança. Não tem mais jeito. É tanta dor no
peito que não tem mais linha que dê conta.
Ao som de: Zeca Baleiro - bicho de sete cabeças.