Mas é falsa, vadia e medíocre, se engana a toda hora fingindo ser quem jamais poderá ser. E o seu medo é bem na verdade é ter de aceitar-se assim, vazia e amarga e esquecida como é. Aceitar seus sempre erros, e seus quase invisíveis acertos...
Medo também, de mostrar-se doce, que para ela era uma pista do quão insegura realmente é. Mesmo nos momentos terríveis que tivera, ela jamais demonstrou falta de ânimo, jamais se abateu. Trancava-se no banheiro e só saía de lá quando toda dor houvesse terminado de escorrer pela sua face pálida de expressões grosseiras e amargas.
Mesmo quando, o seu grande amor, ela viu partir, chorou em silêncio sem que, desta vez, uma só lágrima rolasse pelo canto de seus pesados negros olhos. Engoliu seco todo e qualquer desapontamento por não ser correspondida, ajeitando seus longos e negros fios lisos, e foi-se.
Voltou para sua agitada rotina de festas e jantares, onde ela mesmo sendo sempre requisitada sentia-se como um vaso qualquer, que só era lembrado quando alguém, sem perceber, o derrubava ao chão.
Sentia-se só, usada, passada, e sem amor. Não sentia mais nem prazer em rodar pelos salões das grandes casas, com seus vestidos bordados invejados pelas outras tantas mulheres, que, como ela, representavam ser quem não eram, nem em sonhos. Nem nas bem feitas feitiçarias.
Frias e superficiais todas eram, mas essa queria mais calor, queria sentir calafrios ao ser tocada, ouvir o badalar dos sinos tão sonhados cujos quais ainda recorda.
Essa queria apenas: ser amada. Mas não era por si, nem por outro qualquer.