As noites são escuras para todos.
Não há quem supere seus medos em noites como essas.
O pranto, tanto faz o seu motivo, é substancial.
Reflete o passado, que de distante, nunca existiu.
Curva-te para essa mulher, que assim como tu, busca ser alguém.
Um alguém que não seja ela, assim, tão oca e íngreme.
Íngreme como a escalada daquela montanha na manhã de domingo,
trabalhosa por suas imperfeições.
Buscas ser, decerto, alguém e esse alguém precisa ser distante de si.
Uma barra de ferro pendida no ar é mais valente frente a sua própria dor – pressupões.
Mas o poço está coberto. As janelas estão fechadas.
Há quem diga que o telefone também está cortado.
Ele, do amor ao ódio e, por fim, a aceitação,
também te busca no silêncio das noites
enquanto estás parada em frente a parede rosa, que agora, bate junto ao peito.
O zelo dessa dor é tão confuso quanto ameno.
A solidão que permeia por essa noite também é minha.
Sou solícita, complacente a dor que te aflige e
que tampouco é minha.
Substancial e desigual ela atinge as manhãs.
Rompe com o silêncio de pântano,
rompe com a liberdade em escala.
Agora, livre, podes ecoar esse teu canto melódico e sombrio,
que pousa em mim como um alento - como um filho a quem dou meu seio farto.
Uma cumplicidade sigilosa, secreta de duas almas que estão de mãos dadas,
e onde quer que estejam cantam intensamente
a dor que as acompanha e as une.
Tornando a imagem refletida no espelho: uma só.
Brumosa, vaga, alheia, sem forma. Mas uma só.
O lago que és reflete a imagem do que fostes:
plácida a traições, fria e subversiva quando tratado de ti mesma.
Ingênua, doce e triste.
Uma menina que perdera o sorriso fácil ainda quando moça.
Hoje, uma mulher tão ou mais forte
quanto aquela barra de ferro pendida no ar.
Ainda flutuas sob os oceanos puros
que a liberdade apressada te recompensou.
Flutuas leve e amistosa, tranquila e vagarosa nos rochedos do meu eu.