o calor de derreter
em tons de Dalí, literalmente
derrete primeiro a roupa, o relógio
depois se esvai o corpo de fora
logo em seguida, o corpo de dentro
fígado, rins, pâncreas,
plumão e, por aí, vou derretendo
mas há algo que emergiu do meu eu líquido
único órgão intacto
o coração irrigando vida
para ele mesmo, egoísta
comigo todo derretido pela sala,
ensaio uma teoria
fundamentada no tátil, no visível escopo
pesquisa de campo
retomo o monólogo antigo,
aponto para o meu objeto
impenetrável, duro
riso frouxo e peito estufado;
trago-lhes minha conclusão, irrefutável
(mais que dois pontos, exclamação)
o coração sobrevivente não é de gelo,
como os caríssimos supunham desde o início
o coração exposto aqui em análise
é feito de um resquício mínimo de minerais,
mas o elemento predominante
é matéria forte, impenetrável
granito, meus caros! não calcário - esses, são molengas -
o coração de que vos falo
este aqui, senhores,
é feito da mais bruta pedra
Quem sou eu
- Fabíola Weykamp.
- - O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.
segunda-feira, dezembro 30, 2013
sexta-feira, novembro 15, 2013
de aqui
amores são para sempre
como as estações climáticas
ainda que o cético teorize aquecimento global
o inverno glacial existirá
não com a mesma intensidade de 1715
mas existirá
mundo paralelo aqui frio quente
lá o quente calor
amor de outrora lá
mundo paralelo
amor de agora aqui
quinta-feira, novembro 14, 2013
regras ortográficas (ou paz qual é)
para-quedas para-lama
para amar ninguém escravize
reverberar
poemas são verdades que não dizemos dizendo
poemas nos libertam de nossas algemas sociais
há na poesia a liberdade de ser quem se é
poesias são o profetizar e o bendizer
dos céus quando estamos em paz com nossa irregularidade transitória
poetizar é ser livre,
é ser fundamentalmente cru
lágrimas que temos vergonha de desfrutar
sentimentos que temos orgulho em não demonstrar mostrando
poemas nos libertam de nossas algemas sociais
de nossas aparente perfeições mundanas
há na poesia a liberdade de ser quem se é
como tirar a roupa e mergulhar no rio pelado
como comer com as mãos e lamber dedo por dedo
poesias são o profetizar e o bendizer
dos céus quando estamos em paz com nossa irregularidade transitória
é também o estender as mãos à lúcifer
quando o outro lado da vida nos assola com a morte
no campo material ou mental
quando o outro lado da vida nos assola com a morte
no campo material ou mental
poetizar é ser, em essência, humano
rir gozar e chorar a cada quebra de ritmo
a cada verso dito a sua maneira
poetizar é ser livre,
é ser fundamentalmente cru
quarta-feira, novembro 13, 2013
sobre a saudade de helena
vejo a foto no retrato
o sorriso estampado
dói no meu peito
os olhos empoçados
agora são meus
o sorriso estampado
dói no meu peito
os olhos empoçados
agora são meus
terça-feira, novembro 12, 2013
fumaça melódica de 83
cogumelo da noite
vitamina diária
placebo de dons nobres
para dores também nobres
nei é uma lisboa inteira
lisboa teria nei se possível
mas viajando no cosmos
o pau brasil é ele
vitamina diária
placebo de dons nobres
para dores também nobres
nei é uma lisboa inteira
lisboa teria nei se possível
mas viajando no cosmos
o pau brasil é ele
na hora auge da tua falta
te matei em pensamento
à noite
hora auge da tua falta
te sufoquei com travesseiro
empurrei teu corpo para fora da cama
te chutei para debaixo dela
satisfeita fiquei por cima
impenetrável
adormeci
noite seguinte
hora auge da tua falta
tua sombra no pensamento meu
me via, éramos tu
espelho embaçado pelo vapor do banho quente
eras tu em meus olhos apertados
na hora auge da tua falta
surtei nem me vesti
molhada me deitei ao teu lado
embaixo da cama
lado a lado
na hora auge da tua falta
tua falta
tua falta
te ressuscitei
esfregando a memória
beijando o travesseiro de ti
sentindo o teu cheiro sufocado em cada pena de ganso
deitamos sobre a cama
te coloquei em cima de mim
me sufoquei de ti
na hora auge da tua falta
à noite
hora auge da tua falta
te sufoquei com travesseiro
empurrei teu corpo para fora da cama
te chutei para debaixo dela
satisfeita fiquei por cima
impenetrável
adormeci
noite seguinte
hora auge da tua falta
tua sombra no pensamento meu
me via, éramos tu
espelho embaçado pelo vapor do banho quente
eras tu em meus olhos apertados
na hora auge da tua falta
surtei nem me vesti
molhada me deitei ao teu lado
embaixo da cama
lado a lado
na hora auge da tua falta
tua falta
tua falta
te ressuscitei
esfregando a memória
beijando o travesseiro de ti
sentindo o teu cheiro sufocado em cada pena de ganso
deitamos sobre a cama
te coloquei em cima de mim
me sufoquei de ti
na hora auge da tua falta
segunda-feira, novembro 11, 2013
sopro de saudade
sozinha em casa, nenhum aparelho de som ou televisão ligados; saindo do banho, ecoou no vazio das minhas lembranças um assovio familiar. música assoviada de quem teve o dia longo e cansativo, de quem ouve uns bons bocados de palavras rudes em sua direção e responde com amor, responde com assovios ritmados.de quem é maior do que qualquer rancor. de quem aprendeu a lidar com a vida, a cuidar da renca de irmãos e ainda, sim, ter tempo para nós; assovios de elis, de titãs, de santiago e um em particular: ivan lins
ele ecoando assovios únicos da sala, a irmã mais velha, da cozinha, cantarolando boemiamente cada virgula. várias vezes o disco no repeat, até que eu, lá do quarto, na parte superior da casa pudesse cantar maquinalmente a mesma melodia:
"eu limpei minha vida
te tirei do meu corpo
te tirei das estranhas
fiz um tipo de aborto
e por fim nosso caso acabou
está morto
jogue a cópia da chave
por debaixo da porta
que é para não ter motivo
de pensar numa volta
fique junto dos seus
boa sorte, adeus"
ele se foi. foram-se voz, pulmão, córnea, tímpano, rim, baço, coração.
permaneceu o eco dos seus assovios em mim que, timidamente, fecho os olhos como que em prece para poder ouvi-lo soprar amor em melodias que me acompanharão sempre sempre sempre.
ele ecoando assovios únicos da sala, a irmã mais velha, da cozinha, cantarolando boemiamente cada virgula. várias vezes o disco no repeat, até que eu, lá do quarto, na parte superior da casa pudesse cantar maquinalmente a mesma melodia:
"eu limpei minha vida
te tirei do meu corpo
te tirei das estranhas
fiz um tipo de aborto
e por fim nosso caso acabou
está morto
jogue a cópia da chave
por debaixo da porta
que é para não ter motivo
de pensar numa volta
fique junto dos seus
boa sorte, adeus"
ele se foi. foram-se voz, pulmão, córnea, tímpano, rim, baço, coração.
permaneceu o eco dos seus assovios em mim que, timidamente, fecho os olhos como que em prece para poder ouvi-lo soprar amor em melodias que me acompanharão sempre sempre sempre.
acontecemos
eram lágrimas
difusas
com o suor daquele mormaço
o
sol a pino
as
folhas estanques em seu destino murcho
a
esquina labaredante penetrou no vento das coisas efêmeras do meu coração
secaram-se
as lágrimas
secou-se
o suor
sorriram
em minhas bochechas roseadas
a
primavera de minha vida que há tanto neguei em regar
acontecemos
sábado, outubro 26, 2013
sua vez (ou popularmente conhecido "poeminha da carapuça")
sábio é aquele
que reconhecendo sua ignorância
é capaz
de guardar para si
sua medíocre opinião
próximo!
que reconhecendo sua ignorância
é capaz
de guardar para si
sua medíocre opinião
próximo!
quarta-feira, outubro 16, 2013
poeminha da boca suja
é antagônico
acreditar
que desapegar-se das roupas no armário
descalçar
os sapatos
é
crer que o anjo das coisas findas
irá tirar
a sorte de se estar viva
é imaturo
fácil
difícil imaginar
que a
vida muda quando
a planta
da sala passa a enfeitar a varanda
é infantil
difícil
fácil compreender
que é
mudando dentro de si mesma
que o
que está fora muda realmente.
domingo, setembro 22, 2013
para os dias que não andam fazendo
quando a monotonia dos dias
andar tão presente na vida
preciso seja
o tremer desesperado das cordas vocais
gritos
urros
- murros também -
por aos berros
o que desconforta
o que subjuga
e paralisa
que é para ver
se algo dentro da nossa mesmice
num solavanco
acorda
- por favor!
andar tão presente na vida
preciso seja
o tremer desesperado das cordas vocais
gritos
urros
- murros também -
por aos berros
o que desconforta
o que subjuga
e paralisa
que é para ver
se algo dentro da nossa mesmice
num solavanco
acorda
- por favor!
quarta-feira, setembro 11, 2013
o sopro suave de um tufão
não me curo mais de ângela
penetrou pele
vestiu-se de sangue
escorreu por mim
atingiu cada membrana
cada espaço mínimo do que fui
foi mais fundo
não querendo parar
atingiu meu perispírito
perscrutou meu espírito
inundou o que sou
não quero mais emergir
não quero sacudir ângela de mim
nem tirá-la das minhas entranhas com uma lavagem medicinal
quero ângela dentro, fundo em mim
só assim sei que o que me corre é loucura
mas a loucura mais saudável que já vivi
não me tirem ângela
ela já é minha
já somos nós
sou eu
nela
ela
em mim
e isso me basta
é tudo
mundo
fundo
no que sou
sou
sou ângela
por dentro
correndo nas veias
manchando a tela de vermelho sangue
não me tirem ângela
ela já é minha
já somos nós
sou eu
nela
ela
em mi maior
e nos bastamos.
sexta-feira, agosto 23, 2013
Mesmo depois, ainda há
Se nasce triste,
se vive triste,
se morre triste.
A tristeza está intrínseca
na humanidade;
é a única certeza
da vida
antes da morte.
terça-feira, agosto 20, 2013
o mergulho é apenas consequência
o ser humano pode ser tão bonito quanto frustrante. é terrível perceber que as entregas são frutos de recompensa. tu me dás algo, eu me satisfaço e jogo um beijo no ar, fingindo contemplar nuvens que comi enquanto nem mesmo as digiro e já parto em busca daquele que tem o que eu quero e está vulnerável para me satisfazer. assim são as criaturas, mas, para o alívio da falta total de consideração, existe o abismo próprio que há em cada um. o mergulho é apenas consequência.
quinta-feira, agosto 15, 2013
gotejar; sobre não estar
aquela vontade
absurda
que vem
de repente
com a chuva fria e dura
os pingos de cortar o braço,
a chuva fria
num dia bonito de sol
de nuvens
branquinhas
dançando pálidas no céu
vem aquela vontade
ai!
duas vezes absurda
absurda
ter amarrado nos pés
uma pedra
um caminhão
se jogar fundo
no meio do mar
oceano e tudo vai
tudo ir
ver submergir
quinhão
tudo o que não vai bem
tudo que remédio algum
cura
que presença toda estraga
esfola
desgasta a alma
hoje acordei assim
um ai aqui
querendo não lutar
um ai a mais
querendo não lutar
contra corrente que me puxa
me leva para trás do alcançável
para trás de além
além mar
ah!
como queria estar.
absurda
que vem
de repente
com a chuva fria e dura
os pingos de cortar o braço,
a chuva fria
num dia bonito de sol
de nuvens
branquinhas
dançando pálidas no céu
vem aquela vontade
ai!
duas vezes absurda
absurda
ter amarrado nos pés
uma pedra
um caminhão
se jogar fundo
no meio do mar
oceano e tudo vai
tudo ir
ver submergir
quinhão
tudo o que não vai bem
tudo que remédio algum
cura
que presença toda estraga
esfola
desgasta a alma
hoje acordei assim
um ai aqui
querendo não lutar
um ai a mais
querendo não lutar
contra corrente que me puxa
me leva para trás do alcançável
para trás de além
além mar
ah!
como queria estar.
quinta-feira, agosto 08, 2013
prana
Tenho fumado incensos diversos
Ingerido folhas e mais folhas
Dos velhos livros sacros
Energizado os chakras
Abraçado meu karma
Estou em dívida comigo
Preciso de uma overdose
De bons fluídos Orientais
Cósmicos e Espirituais
Estou em dívida comigo
Há não sei quantas reencarnações
Nesta, me mantenho diluída
Na promessa consciente
De devolver a paz que me roubei.
Ingerido folhas e mais folhas
Dos velhos livros sacros
Energizado os chakras
Abraçado meu karma
Estou em dívida comigo
Preciso de uma overdose
De bons fluídos Orientais
Cósmicos e Espirituais
Estou em dívida comigo
Há não sei quantas reencarnações
Nesta, me mantenho diluída
Na promessa consciente
De devolver a paz que me roubei.
segunda-feira, agosto 05, 2013
vestida de ilusão
Tinha
os olhos tristes
Maldizendo
os céus
Sua
própria solidão
Fui
me chegando mansinho
– sei que nossas escolhas nunca se encontraram –
Fui
me chegando mansinho
Dando
carinho
Que
julgávamos não merecer
Tinha
os olhos tristes
A
terra toda em festa
Com
suas danças e saias em movimento
Vestida
de negro
A
sombra das manhãs
Pedi
para que fosses minhas
Até
de manhã cedinho
Como
prece
Deitei
meu peso em teu ombro
De
repente, peso algum mais havia
As
vozes celestes ecoavam no nosso quarto
A
tua saia balançava ao luar
Como
deusa do meu céu
Com
o amor que eu poderia te dar
Aceitastes
Naquele
luar de olhos tristes
Fomos
os olhos mais felizes dessa festa
Minhas
preces foram ouvidas,
Posso
assim dizer,
Tu
sorristes para mim
Como
quem sorri para a voz de Caymmi
Sorristes
enluarada, mansa nessa madrugada
Vestida
de noite
Na
terra dos infelizes
Fostes
a mais feliz voz de cetim
Tinha
eu os olhos tristes agora
O
lamento dos que sofrem por amor
Dos
que morrem por amor
Era
o meu lamento em dó maior
Nem
Caymmi me poria o sorriso de volta
Nem
a valsa das tuas torneadas coxas
Me
fizeram cantar para o teu enluarar
Tinha
eu os olhos tristes cá
Chico
me disse:
Foram
tudo meras ilusões
Dos
sonhos que dobram a esquina
Sem
olhar para trás
Fico
eu triste com os olhos de cá
sexta-feira, agosto 02, 2013
psicografia do perdão
Disseram-me que não era para eu me preocupar. Que embora o cansaço da longa estrada, eu não
deveria desanimar com minha nova condição. Fiz das tripas coração e agora estou
aqui, do alto, te olhando. Olhando como quem quer ser reconhecido; como quem
passa os dias pensando nas coisas idas da vida, também, nas coisas vindas e que
eu desperdicei porque, no momento propício, eu não estava pronto. Olho a ti daqui
de cima e percebo quanto tempo desperdicei não te olhando como agora. Quantas noites
mal dormidas eu tive e, por ingenuidade e solidão de quem nunca soube se
dividir, decidi ficar pela sala, longe dos braços teus –que era para não te
acordar a princípio, quando na realidade era para não me acordar. Não me
acordar para o que a vida estava exigindo de mim e eu não quis ouvir, não
quis ouvir a ti, nem a Marcos nem Pedro nem a Paulo. Simplesmente fechei meus
ouvidos, afastei o mal dormir abanando a cabeça e enchendo minha boca do whisky
mais caro que havia sobre a cristaleira da sala de jantar. Perdi o meu sono e
perdi de ter colada em meu peito, pedindo asilo, um gole qualquer do meu amor.
Perdi em não te amar como devia, perdi de ouvir todas as histórias que
constastes nas tuas letras, que não me enviastes porque..., porque eu não tenho
mais endereço, não tenho mais agenda; nota fiscal eu perdi, o compromisso com a
vida eu me esqueci. Desculpa-me, minha querida Cândida, por não ter dividido
meus anseios juvenis como o prometido; por ter te afastado da responsabilidade
da minha vida enquanto tu repousavas a cabeça nua sobre o meu ombro, por ter
desviado da nossa rota tão cedo. Mas a vida é justa e, a morte, também... Olhando-te
do longe, agora, com os lábios sem cor, a roupa ainda de ontem, eu percebo o
quanto fiz me perder de ti. Perdoa-me por ter ido, mas não posso mais voltar.
Com profundo amor e arrependimento, do
teu
Olavo.
quarta-feira, julho 24, 2013
sobre a helena está a saudade; abaixo de helena, o vazio
às vezes não sei o que pensar e, logo, dizer sobre o que estou pensando. mas ela vem e me abraça de um jeito tão íntimo e tão familiar que me deixa com frio na barriga, aperto no peito e olhos úmidos.
quisera eu poder entender o que se passa - para seguir adiante simplesmente, ou me sentar no meio do caminho ao lado da dor que nos angustia.
a saudade pode ser bonita (quando de dia) como pode deixar uma casa cheia vazia.
meu peito se enche de saudade e isso é languidamente vazio.
quisera eu poder entender o que se passa - para seguir adiante simplesmente, ou me sentar no meio do caminho ao lado da dor que nos angustia.
a saudade pode ser bonita (quando de dia) como pode deixar uma casa cheia vazia.
meu peito se enche de saudade e isso é languidamente vazio.
quinta-feira, julho 18, 2013
una taza de té
una cosa tan simple,
porém espetaculosa,
de sabores únicos,
de todas as cores;
uma coisa tão simples como uma casa –
abriga os corações amados,
los protege de las tormentas;
uma coisa tão simples como o fogo –
queima e incendeia os corpos;
uma ruptura dos
corpos plurais
até a singularidade das almas enamoradas;
así que esta simple cosa
llamada amor.
quarta-feira, junho 19, 2013
Um peito que se infla a cantar
Versos que se cruzam
[Falam-me através do tempo]
Conversas miúdas
Dos corações que choram,
Mas não param de cantar
Sinfonias unas
Uma cem línguas mais
Pousam sobre a
alcova
Em ardido soneto
de amor
A valsa retine
nos becos mundos
Tu e nós num só
laço profundo
O mundo todo nós
e tu
Num abraço de
cordas vocais
Que são letras
Garrafais
Engarrafadas em
peito que é nosso
Tão do mundo
Na conversa
cruzada
O balanço sonoro
Nestas linhas
versadasterça-feira, junho 18, 2013
O tempo - descanso na varanda
Aproveitando enquanto é cedo
O livro e seu desassossego
Não canso
Paro
Penso
Alcanço
Há nas palavras
O que deveria ter
No manto, no trago
Num campo
Meu corpo que letra é
Letra sendo eu
Nesse espaço em branco
De um banco qualquer
A troca do que fomos
A troca do ser sendo em outro
Ouro negro
Raro
Como teu espanto
Não crio desesperança
Não falo de monstros
Abro o livro
Me deparo
Com o beijo da pena
A linha que traceja
A vida num só pulo
O desassossego
Que em mim vagueia
Num descanso da varanda
sexta-feira, junho 07, 2013
divã gratuito pelos quatro cantos do mundo (deus, lacan e saussure suspiram aliviados)
Se há pensamento
há ação consequente
no meio disso tudo
deve de haver consciência
antes de mais nada
palavra.
há ação consequente
no meio disso tudo
deve de haver consciência
antes de mais nada
palavra.
quarta-feira, junho 05, 2013
terça-feira, junho 04, 2013
Punição de travesseiro
Acredito
não ter superado
O luto é diário
Não superei o dia em que nasci
Porque nascer é morrer
Um dia de cada vez
Lenta, lentamente
Por isso
A única coisa inabalável em mim
É essa tristeza
Esse luto permanente
Nasci
Então morri e
Continuo morrendo
Lenta
Lentamente
Dia após dia
O luto é diário
Não superei o dia em que nasci
Porque nascer é morrer
Um dia de cada vez
Lenta, lentamente
Por isso
A única coisa inabalável em mim
É essa tristeza
Esse luto permanente
Nasci
Então morri e
Continuo morrendo
Lenta
Lentamente
Dia após dia
quarta-feira, maio 22, 2013
Pessoas nanquim
Muito
me estranha quem não demonstra fraqueza, quem é sempre forte por fora, casca
dura que não quebra a qualquer choque. Desconfio de quem não se abate com nada,
segue sempre sereno e firme, sem nunca fraquejar diante às decepções
corriqueiras da vida. Suspeito de quem diz não conhecer o fundo do poço, quem nunca se viu rastejando no submundo da infelicidade, quem nunca vagou pela
escura e fria solidão moribunda genuína do próprio despertar. Dessas pessoas, me
afasto. Não são humanas, são robôs, são qualquer coisa outra, menos humanas . Pessoas de verdade
sofrem. Rastejam, sentindo agoniada dor rasgar o peito. Pessoas de verdade, se
recuperam hora e outra. Antes, frequentam os piores bares da depressão e da auto
piedade, mas se reerguem, penteiam os cabelos, passam uma água no rosto e voltam
à superfície. Voltam, melhores e mais fortes e corajosos do que antes. Pessoas
de verdade querem morrer, mas não morrem porque há uma força muito maior que as
põem vivas novamente, frente a frente com o espelho nosso de cada dia. Pessoas
de verdade sentem alegria, sentem dor e se renovam a cada amanhecer, independentemente da chuva que cai lá fora.
Enxaqueca
São coisas que sempre estarão entre nós:
A minha solidão e o teu individualismo.
Todos nós focados e, dubiamente, exacerbados
Com a nossa estranha teimosia de querer viver...
A dois, logo quando só podemos ser
(cada um)
Um só.
sábado, maio 18, 2013
O reflexo inflexo da infelicidade nebulosa
Olhou-se no espelho
Teve dúvidas do que era
Perguntou-se há quanto estaria ali
Parada, seminua
E de onde e por quê
Tanta tristeza em seu rosto
Em todo seu corpo desengonçado
Olhou-se mais de perto
Resvalando os dedos nas olheiras profundas,
Nas expressão infeliz de estar viva
Não restou-lhe mais dúvidas
Era ela mesma
Só que menos infeliz,
Do lado esquerdo para baixo
Por incrível que pareça
Menos infeliz.
Teve dúvidas do que era
Perguntou-se há quanto estaria ali
Parada, seminua
E de onde e por quê
Tanta tristeza em seu rosto
Em todo seu corpo desengonçado
Olhou-se mais de perto
Resvalando os dedos nas olheiras profundas,
Nas expressão infeliz de estar viva
Não restou-lhe mais dúvidas
Era ela mesma
Só que menos infeliz,
Do lado esquerdo para baixo
Por incrível que pareça
Menos infeliz.
segunda-feira, maio 13, 2013
O Anjo das Coisas Findas
Joguei a toalha.
Pura e simplesmente.
Foi como
Se o Anjo das Coisas Findas
Viesse ao meu encontro
E docemente dissesse
O quanto sentira minha falta nesse tempo todo de solidão.
Pura e simplesmente
Nos reencontramos.
quinta-feira, maio 09, 2013
Dor epigástrica mais terna do que teu colo
Meu Deus
Uma faca
Bem afiada
Serrando incessantemente um ouvido
É muito mais confortável e
Indolor
Dou que ouvi-lo falar
A que ponto chegamos nós
Nessa vida
Miseravelmente indigesta
Em que o suco gástrico
Que volta queimando garganta
Mil vezes mais saboroso
Doce é
Doce é
Do que teus beijos de outrora?
terça-feira, maio 07, 2013
INFORTÚNIO UMBILICAL
Tudo
o que fazes para mim
Soa
como um fardo
Uma
imposição divina
Que
deve ser obedecida a cada Ave Maria decorada
Tudo
o que fazes para mim
De
pálida boa vontade
Soa
como cinismo velado
De
alguém tão mesquinho e egoísta
Que
não é capaz, nem mesmo por amor próprio,
Dizer
que não está afim quando, realmente, não estás.
O
meu estômago embrulha só de pensar
Que
posso ser como tu, logo adiante
Seguindo
maquinalmente como a reza de um terço,
Seguindo
à risca o dito popular
‘Quem
sai aos seus não degenera’
Antagônico
e complexo
Nunca
fui tua
Apenas
saí daí, de algum jeito
Nem
sei como, meu Deus
Nunca
fomos nada
Nem
mesmo fizestes questão
Questão
de tentar ser
Nunca
fomos nada
Além
do que completas estranhas
Que
pela infelicidade do destino
Precisam
ocupar a mesma sala de jantar.
Mais
sofrível do que convivência forçada
É
a impossibilidade genuína
De
sermos qualquer coisa que não
Meras
intrusas
Meras
desconhecidas...
Se
estas palavras a chocam
Deixam-na
perplexa e ofendida
Tente
fazer uma aproximação
Mais
fidedigna possível
Dos
sentimentos com que a tua incoerência
E
frieza maternal
Mastigaram minha alma,
Minha felicidade.
segunda-feira, abril 15, 2013
poemelinskiando
espalho
o cinza
e
nele todo o amor
me
infla
fito
o oco
e
todo abandono
se
acaba num sopro
asco
masco
sou
forte
e
me reparto
um
parto que chega
um
fardo que parte
divide
subtrai
soma
e
reparte
domingo, abril 07, 2013
do tipo: irreversível
Estou triste
No desenho marrom
Perdi a tua linha...
Parece bobagem
Não querer beber café
Não contei, mas tem sido assim
Tenho sido do tipo orgânico
Que toma banhos rápidos
Que troca o doce pelo nada
O suco natural, polpas e sangue limpo
Parece loucura:
Somente fazer café
Tem sido minha cura
Difícil não saboreá-lo
O teu sorriso cheira a café
E isso fagulha
O que já não mais
É
Ouço passos na cozinha
Lembro-me do café
Das tuas melodias
Sangue ferve
A chaleira apita
Quero berrar
Mas só tenho saudade
A oferecer nessa casa vazia
Sem falar da cama...
Posso te ver
Saindo dela
Linda e branca
Caminhando na ponta dos pés
Para não me acordar
Eu, acordado,
Fingia dormir
Para te ter cautelosa
Pisando em nuvem
Pela manhã
Somente para mim
Mas agora a água esfria
Moo os grãos de café
Faço tudo
Como manda a rotina
Como tuas mãos brancas
Faziam
Só não o bebo
Não tem gosto
O líquido esfria na xícara
Apenas preto, insípido
Sirvo a mim
A ti
Mas os passos nus
Retumbam a madeira velha
A sala ‘de não estar’
Não estou
E
Estou tão triste
Cheirando a café
Os passos nus continuam
Retumbam-me
Lembro-me da tua solidão
Vestindo minha camisa
Branca
Invento o futuro
Que não tivemos
Sinto falta
Da água quente
Teu café
Inspiro suave e
Lentamente
[Finjo]
A fumaça do café fresco
Inspiro-me
Te vejo
Fumaça
Nua nos pés
Os olhos meus
As mãos tuas
Coando café
Caçoando minha velhice
A tristeza seguinte
Num gole filosofal teu
Perdi
Infelicidade profunda
Não te entender
No desenho marrom
O fundo da xícara
Anuncia o fim
Joguei fora
A tua borra de café
Não contei, mas tem sido assim
Do tipo orgânico
Caso irreversível de ti
sábado, abril 06, 2013
desassossego noturno
Acordei no meio da noite, aturdida, suando frio. Não era pesadelo, mas havia um peso em mim que eu não sabia de onde vira. Um desconforto enorme no peito, sensação de sufocamento. Queria gritar, mas não tinha voz. Era madrugada. Não queria fazer alarde à toa da minha dor. Pensei em buscar um copo d'água quando fui levantar da cama, acordei.
O que eu acabara de vivenciar fora um sonho dentro de outro sonho, esquisito, apertado, pesado.
Acordada, o peso manteve-se. A sensação de ser sem estar é angustiante de começo, mas logo vem o cansaço seguido do conformismo. Tudo se adéqua ao movimento atual, querendo ou não. Tudo segue no peso, no esgotamento do desassossego. Sem medida ou ação precursora de mudança, tudo segue nos conformes, nos clichês da animosidade. Sem estremecer a insegurança, ela continua firme em seu objetivo; barrando tentativas de revirar a alma, de avivar os sentimentos para o agora...
Tudo segue pesado, cansativo.
Nem me lembro mais da última noite em que finalmente adormeci, esgotada. Isso que tenho tem um quê de nada, rotulado como tudo aquilo que dói sem saber e imobiliza sem querer.
terça-feira, março 26, 2013
mãe
foi dito. teve vômito e por mais que isso me incomode, foi necessário, pois que desobstruiu a passagem para o que deveríamos ter sido. sem hipocrisia, tudo dito foi. sem uma lágrima caída, ainda que a mágoa seja a nossa única ligação, acima dela persiste a raiva; até mesmo rancor. daquilo que não foi resolvido. não por mim; tenho tido inúmeras conversas e conselhos na terapia nesses últimos dez anos. tenho feito minha parte, por isso tenho conseguido deitar a cabeça no travesseiro e dormir. tu também tens dormido. eu tenho te ouvido dormir. volte e meia, na ida ao banheiro, passo pelo teu quarto e te espio o sono pela porta entreaberta. tens dormido e eu me pergunto "como?", como dormir, como fingir essa imparcialidade? como fazer de conta, por tantos e tantos anos, que não há nada fagulhando o peito? a mágoa arruína-nos, mãe. ela perturba; amarra-nos ao passado que já deveria ter sido esquecido. eu quero pontilhar uma trajetória de afeto: comigo, contigo e com a minha infância. no entanto, preciso que tu faças o mesmo: contigo, comigo e pela nossa infância.
ao som de: Doces Bárbaros - eu te amo
ao som de: Doces Bárbaros - eu te amo
terça-feira, março 19, 2013
Mansidão complacente
Um alento
Em meio à madrugada
Fria e escura
Um acalanto de ternura
Pelos olhos escorria
Aquecendo a face mórbida da melancolia
Um carinho recíproco
De quem soluça baixinho
E é completamente capaz de mitificar
O sentimento piedoso e suave
Vindo da imensidão terna da noite
Embora haja o pranto, oriundo das dores e medos adjacentes
Embora o misterioso e conflituoso medo de se perder no infinito das lágrimas...,
Há mansidão complacente
Há beleza na própria e solitária dor
Pois é nela que a fênix da nova chance ressurge
É senão a dor: o trampolim à plenitude consoladora.
Em meio à madrugada
Fria e escura
Um acalanto de ternura
Pelos olhos escorria
Aquecendo a face mórbida da melancolia
Um carinho recíproco
De quem soluça baixinho
E é completamente capaz de mitificar
O sentimento piedoso e suave
Vindo da imensidão terna da noite
Embora haja o pranto, oriundo das dores e medos adjacentes
Embora o misterioso e conflituoso medo de se perder no infinito das lágrimas...,
Há mansidão complacente
Há beleza na própria e solitária dor
Pois é nela que a fênix da nova chance ressurge
É senão a dor: o trampolim à plenitude consoladora.
sexta-feira, março 15, 2013
À beira do caminho
'Sentado à beira do caminho'
Sou flor,
sou espinho
A dor
vem do chão
Sou pó,
estou sozinho
Não há
mais ouvido que aguente
A luta
dos que gritam
Não tem
mais som nas ruas
Uma guitarra
não toca nua
'Sentado à beira do caminho'
Há desistência
e pranto
A dor
no chão eu não piso
Estou
abaixo dela
Onde
há pó, espinhos
Onde
há o que esquecer.
ao som de Belchior - Tudo outra vez.
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